
Por Andreas Kindel
Biólogo, professor associado da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e coordenador do Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias da mesma universidade (NERF-UFRGS)
estradas@faunanews.com.br
Com um alerta deste tipo, um sistema de detecção de fauna a ser instalado nas imediações das estradas pretende contribuir para a redução da enorme carnificina nas rodovias brasileiras. A ideia vem sendo desenvolvida pela bióloga Fernanda Abra e colegas através de sua empresa Viafauna e vem recebendo apoio de um programa de incentivo à inovação da FAPESP.
Há inúmeros sistemas de alerta sendo testados ou já sendo adotados no mundo, sobretudo nos Estados Unidos e na Europa. Em geral, o sistema utiliza um sensor (alguns utilizam um feixe de infravermelho, outros uma câmera termal) que detecta a invasão da área de monitoramento por um animal e envia um sinal para um sistema de alerta aos motoristas, que pode ser um painel luminoso, uma placa associada a um giroflex ou outra combinação de elementos estáticos e dinâmicos iluminados. Esses sistemas são implantados em trechos de estradas conhecidos por agregarem um número significativo de colisões de veículos com a fauna. Para uma excelente discussão sobre o planejamento de estruturas de detecção e sinalização e sua efetividade, recomendo o capítulo 24 do Handbook of Road Ecology (o livro foi apresentado no artigo Por que não falei disso antes?, publicado em 3 de março de 2016).
Há iniciativas mais ousadas que embarcam a tecnologia nos próprios veículos (vídeo abaixo). Ainda que hoje esteja restrita aos modelos mais luxuosos, no futuro, assim como ocorreu com outras tecnologias, seu uso certamente também será popularizado. Não tenho dúvida que se trata de um instrumento altamente efetivo para reduzir as mortes e as lesões dos ocupantes dos veículos e também reduzir as mortes da fauna de grande porte. Menos sorte terá a fauna menor.
Uma alternativa de difusão menos provável é a instalação de gigantescas telas (vídeo abaixo) que transmitem imagens termais de trechos de elevado risco, como as que foram implantadas na Áustria recentemente pela BMW. Como campanha de alerta ou divulgação do sistema de visão noturna embarcada em seus carros, certamente funciona. Mas não espero vê-las distribuídas pelas estradas do mundo como uma alternativa viável e necessária, afinal temos outras alternativas mais baratas e que podem ser mais amplamente utilizadas.
Um aspecto interessante no sistema de detecção que vem sendo proposto e testado pelas pesquisadoras brasileiras é a sua adaptação para uma fauna de menor porte (a partir de 3 kg) do que as versões adotadas no contexto norte-americano e europeu. Se for efetivo (e resistir às tentações do vandalismo e do roubo), ampliará o leque de estratégias disponíveis para mitigar a mortalidade nas estradas brasileiras. Poderá ser muito útil como estrutura complementar às passagens de fauna e cercas, com a vantagem de poder ser realocada ou seu número ampliado sempre que os monitoramentos de mortalidade indicarem mudanças nos padrões espaciais. A expectativa pelos resultados dos testes de campo é grande!