
Por Fernanda Zimmermann Teixeira
Bióloga, mestre e doutora em Ecologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). É pós-doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Análise e Modelagem de Sistemas Ambientais da Universidade Federal de Minas Gerais e integrante do Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF) da UFRGS
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O número de animais silvestres mortos em estradas parece estar aumentando no planeta com o crescimento do tráfego de veículos e a expansão das redes de estradas. Há mais de 20 anos, pesquisadores já acreditavam que morriam mais animais atropelados do que por caça (e as estimativas de animais caçados já são astronômicas!), sendo os atropelamentos a principal causa direta de mortalidade de vertebrados por influência antrópica (humana).
Estimativas nacionais do número de animais atropelados em estradas em diferentes países variam de alguns milhares a centenas de milhões de atropelamentos de vertebrados todos os anos e a magnitude de atropelamentos em ferrovias pode ser tão alta quanto a de rodovias. Nos anos de 1960, a Human Society nos Estados Unidos sugeriu um mínimo de 365 milhões de atropelamentos por ano nas rodovias daquele país. Ter uma ideia de quantos animais morrem em grandes regiões é importante para que as pessoas entendam a dimensão desse problema e se sensibilizem. Contudo, mais importante do que isso é termos boas estimativas locais que possam servir de base para a tomada de decisão.
Saber quantos animais morrem é o primeiro passo para avaliar o potencial impacto das estradas nas populações que vivem no entorno da estrada. Mas não é somente isso.
Saber o tamanho da mortalidade antes e depois de um dado período é fundamental para avaliar os efeitos de alterações nas estradas (como pavimentação, duplicação ou aumento de tráfego) e a efetividade de medidas de mitigação (como a redução de velocidade, a instalação ou modificação de passagens de fauna ou cercas). Também existe o interesse em comparar taxas de mortalidade entre diferentes partes de estradas, para, por exemplo, definir trechos prioritários para a instalação de medidas mitigadoras.
Com informação é possível também refinar o nosso entendimento sobre os elementos responsáveis pela variação no risco de colisão (como a paisagem do entorno e as características da estrada), conhecimento que pode ser utilizado tanto para planejar medidas para redução desses acidentes em estradas existentes quanto para evitar a construção de novas rodovias com uma configuração que possa gerar alto risco de atropelamento ou em locais considerados inapropriados.
Entretanto, as estimativas não podem ser feitas apenas considerando o número de animais mortos observados nas estradas. Existem alguns fatores que geram vieses nesses cálculos, como a persistência das carcaças e a eficiência do método de observação. Esses fatores precisam ser considerados para corrigir as estimativas de taxas de mortalidade.
Primeiro, essa correção é fundamental porque se espera que esses fatores variem de um estudo para outro. A persistência das carcaça, por exemplo, pode variar em função do fluxo de veículos, de variações climáticas e da presença de animais carniceiros; enquanto que a eficiência da observação vai variar em função do método utilizado (carro, a pé, velocidade, número de observadores), do tipo de pavimento e da habilidade dos observadores em enxergar carcaças durante o monitoramento.
Em segundo lugar, e mais importante, a comparação de taxas de mortalidade no espaço ou no tempo só é possível se elas forem corrigidas considerando esses fatores. Isso é fundamental se houver motivos para esperar que a persistência ou a eficiência varie (e há!), mas, principalmente, se os estudos possuem métodos diferentes ou frequências de amostragem diferentes (pois o efeito da persistência das carcaças será maior em um do que em outro).
CURSO NERF-UFRGS
Se você trabalha com impactos de estradas sobre a fauna e tem interesse em discutir esse assunto mais profundamente, além de aprender sobre possibilidades de análise de dados de atropelamento de animais silvestres (incluindo como corrigir estimativas de mortalidade em função da persistência e detecção das carcaças), o Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF) da UFRGS está com vagas abertas para o um curso. Confira!