
Por Gabriela Schuck de Oliveira
Graduanda em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e bolsista do Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF-UFRGS)
estradas@faunanews.com.br
Passamos por diversas etapas da educação ao longo da vida: ensino fundamental, ensino médio, cursinho pré-vestibular, faculdade, autoescola, concursos, entre outros. Todos têm algo em comum: ensinam a vencer a próxima etapa. Nos ensinam a decorar para suplantar uma ou várias avaliações e conquistar algo. Mas, infelizmente, não conseguimos decorar resoluções dos problemas da vida. Aprendemos (quando aprendemos…) isso na prática do dia a dia, com as experiências e erros. A coluna de hoje é um relato da experiência que tive ao vencer mais uma dessas etapas: curso teórico de formação de condutores.
O atropelamento dos animais nas estradas é recorrente e todo o futuro condutor poderá passar por essa situação. Mas por que ainda isso não é abordado na maioria das autoescolas ou quando abordado é de maneira superficial?
Atualmente, o curso oferecido pelas autoescolas do Detran-RS é dividido em cinco módulos: legislação de trânsito, direção defensiva, funcionamento do veículo, meio ambiente/convívio social e primeiros socorros. Cada professor sabe exatamente a porcentagem do que aparece de cada módulo nas provas e as aulas são direcionadas conforme esse peso na prova teórica. Na linguagem dos alunos, a prova é dividida em questões superficiais, motivo de chacota, e questões mais complexas, para as quais você precisa decorar a resposta. Um exemplo de questão que gera chacota por ter respostas absurdas (veja ao lado) é justamente uma das únicas abordagens sobre atropelamento de animais silvestres que eu tive no meu curso.
Acredito que não seja por falta de material, pois no módulo do meio ambiente a minha aula teve um apoio de vídeo educativo disponibilizado pelo Detran. Entretanto, foi apenas veiculada a parte sobre poluentes, já que esse é o assunto que cai na prova. Em um determinado momento do vídeo, falou-se sobre travessia de animais silvestres. Foi um momento de euforia e felicidade da minha parte, mas durou pouco tempo, pois logo a professora pausou e disse:
– Essa parte não precisa, só cai até aqui na prova. Vamos treinar questões!
E essa cena se repete várias vezes em muitos assuntos que deveríamos discutir antes de estrearmos como motoristas. O título do material didático fornecido no curso é ‘’ Consciência sobre rodas’’, porém eu não consigo entender que tipo de consciência eu vou desenvolver apenas decorando os conteúdos.
Esse problema de sistematização tem raízes enormes. Vem por parte dos professores, dos alunos, do sistema burocrático, se assemelhando a um pacto de mediocridade. Mas não é pela tamanha complexidade que devemos desistir de solucioná-lo. Existem trabalhos (ver texto "Informação com chave para reduzir atropelamento de animais silvestres’’) em escolas que desenvolvem uma abordagem mais consciente sobre atropelamentos de animais, antes mesmo da decisão de tirar a carteira de motorista. Destacam a importância do aluno no meio familiar e na comunidade, com o papel de sensibilizar e promover a atenção no trânsito.
Enfim, devemos seguir a luta de estimular a consciência nas pessoas, de provocar discussões e reflexões, principalmente a respeito da conservação da nossa fauna silvestre.