
Por Fernanda Zimmermann Teixeira
Bióloga, mestre e doutora em Ecologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). É pós-doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Análise e Modelagem de Sistemas Ambientais da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e integrante do Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF) da UFRGS
estradas@faunanews.com.br
Apesar de a Holanda ser um país com uma rede extremamente densa de rodovias e ferrovias, existem diversos parques naturais no país. Na costa do Mar do Norte, bem próximo da capital Amsterdam, há uma extensa área de dunas (em torno de 7 mil hectares), onde fica o Parque Zuid-Kennemerland. Essa área é muito importante para a conservação das fontes de água para consumo humano. A areia é um ótimo filtro, logo a manutenção das dunas tem uma função importante para a existência desse serviço ecossistêmico.
Porém, essa não é a única razão para a criação de parques nessa região, pois há também uma forte preocupação com a conservação da biodiversidade local. Como é uma área muito turística, rodovias e ferrovias cortam a região para dar acesso ao litoral, e essas estradas acabam isolando as dunas remanescentes.
Com o objetivo de reconectar a paisagem isolada por essas estradas e permitir o trânsito da fauna em segurança, o governo da província de Noord-Holland e a ProRail (gestora da ferrovia) construíram, com o apoio da União Europeia, três grandes passagens de fauna superiores que conectam o ambiente de dunas sobre duas rodovias e uma ferrovia. São estruturas de aproximadamente 40 metros de largura, construídas nos últimos 5 anos (uma ainda está sendo concluída). Essas passagens foram elaboradas focando principalmente em espécies de pequeno porte, como insetos, lagartos, entre outros.
Além da areia e da vegetação campestre que foi plantada no local, também foram colocados troncos, galhos e algumas telhas para funcionarem como atratores e como abrigo para animais de pequeno porte.
Na visita que fizemos às passagens durante o IENE, evento de Ecologia de Estradas que aconteceu na Holanda há duas semanas, verificamos um exemplo da funcionalidade delas: encontramos um sapo-corredor (Epidalea calamita) em cima de uma das passagens.
Toda a Holanda tem sido alvo de um grande esforço de recuperação da conectividade entre as áreas protegidas nos últimos 15 anos, não somente nessa região de dunas. Uma perspectiva adicional desse esforço monumental pode ser observada no vídeo abaixo.
A desfragmentação das paisagens provocada por rodovias e ferrovias é um alvo de conservação em vários países e sua implementação torna-se mais relevante ainda no contexto das mudanças climáticas em curso.
No Brasil, existem dois programas importantes que são uma grande oportunidade para planejar e implantar uma estratégia nacional similar. O Programa Federal de Rodovias Ambientalmente Sustentáveis (PROFAS), do Ministério do Meio Ambiente e do Ministério dos Transportes, que tem como objetivo regularizar as rodovias federais que não passaram pelo processo de licenciamento ambiental, e o Programa Conectividade de Paisagens – Corredores, do Ministério do Meio Ambiente, que tem como objetivo integrar políticas públicas que propiciem a conectividade. É importante que esses programas saiam do papel e pensem estratégias para termos uma rede viária mais sustentável!