
Por Júlia Beduschi
Bióloga e mestranda na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), trabalhando junto ao Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF) da mesma instituição
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Em maio de 2016, o coordenador do Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (NERF-UFRGS), Andreas Kindel, escreveu um artigo sobre a importância de trabalharmos em cooperação no licenciamento ambiental. Me permitam retomar um pouco do que foi abordado na coluna.
O licenciamento é um processo que envolve muitos interessados: empreendedores, órgão gestor, técnicos ambientais, consultores e acadêmicos. Dentro desse grande grupo onde há diferentes interesses, há também acusações mútuas de incompetência, omissões, morosidade no processo e outras inconveniências. Porém, por princípio, o objetivo final é comum: precisamos proteger a fauna. A forma mais eficaz de atingirmos esse objetivo é guardar nossos pré-conceitos e trabalharmos juntos.
Nesse artigo foi exposto o esforço de cooperação entre todos os atores envolvidos no licenciamento de rodovias no estado do Rio Grande do Sul. Arregaçamos as nossas mangas e durante dois anos trabalhamos conjuntamente, em reuniões trimestrais, discutindo como melhor abordar o impacto da mortalidade de fauna no licenciamento ambiental de rodovias. Nas reuniões participaram o órgão empreendedor (Departamento Autônomo de Estradas e Rodagem – DAER/RS), os órgãos licenciadores (Ibama/RS, Secretaria Estadual do Meio Ambiente do RS e Fundação Estadual de Proteção Ambiental – FEPAM-RS), a academia (NERF-UFRGS) e os consultores.
Na época, estávamos submetendo um artigo científico que descreve a abordagem adotada e o produto final alcançado. Também estávamos protocolando o documento final nos órgãos responsáveis com a esperança de que começasse a ser praticado o que foi discutido. Como o Andreas afirmou: “Não temos dúvida de que essa iniciativa só estará completa quando o que recomendamos começar a ser praticado”.
Pois bem, o ano de 2018 terminou com a incrível notícia de que o documento virou uma diretriz técnica dentro dos órgãos licenciadores.
Isso só foi possível graças ao grande empenho dos técnicos ambientais para que nosso trabalho fosse reconhecido dentro do órgão. Essa vitória mostra que quando trabalhamos em equipe, conseguimos mudar o mundo! Tudo bem, o mundo ainda não, ainda há muitos impactos a serem estudados e discutidos, mas o impacto da mortalidade de fauna no estado do Rio Grande do Sul vai ser muito melhor avaliado.