
Por Fernanda Zimmermann Teixeira
Bióloga, mestre e doutora em Ecologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). É pós-doutoranda no Laboratório de Ecologia da Paisagem da Carleton University (Canadá) e integrante do Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF-UFRGS)
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Quando viajo, sempre noto as aves que ficam na beira da estrada e voam quando o carro se aproxima. Muitas vezes, ao contrário das minhas expectativas, elas voam para o outro lado da estrada, atravessando pela frente do carro. Sempre fiquei imaginando como uma ave percebia aquela situação e o que fazia ela decidir entre voar pela frente do carro (aumentando as chances de morrer atropelada) ou para o lado contrário do carro, ficando em segurança.
Ainda não sabemos a resposta a essa pergunta, mas um estudo desenvolvido na Noruega e publicado na revista Behavioral Ecology em 2014 começou a explorar as relações entre as características das aves e a probabilidade de elas cruzarem a rodovia ou voarem para o outro lado quando um veículo se aproxima. O que eles fizeram foi dirigir por aí e registrar as aves que estavam na estrada e para onde elas voavam quando eles se aproximavam. Então, testaram se a proporção das aves que eles observaram atravessando a estrada ou evitando os carros era diferente do que se esperaria ao acaso.
Depois de observar mais de 3.700 indivíduos voando e de analisar os dados, eles observaram que foi mais comum as aves voarem para fora da estrada do que atravessarem pela frente do carro, para praticamente todas as espécies observadas. Mais do que isso, eles encontraram que as aves que têm cérebros maiores têm maior probabilidade de voar para fora da estrada, ou seja, aves com cérebros maiores evitam mais os veículos, o que diminui as chances de serem atropeladas.
Por que será que existe essa relação entre tamanho do cérebro de uma ave e a chance dessa ave evitar um carro em movimento?
Alguns estudos relacionam o tamanho relativo do cérebro com uma maior capacidade cognitiva, mas essa ainda é uma questão controversa. Pode ser que cérebros maiores permitam que essas aves tenham maior habilidade de julgar a direção ou velocidade de um veículo ou, ainda, que sejam capazes de aprender.
Isso é muito interessante e melhora nosso entendimento sobre o impacto que as estradas causam. Mas podemos tomar alguma decisão para diminuir os atropelamentos com essa informação?
Algumas espécies fogem com mais frequência dos carros do que outras. Não podemos fazer nada quanto a isso. Mas, esse estudo também traz outro resultado que pode ser muito útil: a vegetação ao lado da rodovia pode influenciar o comportamento das aves. Os autores da pesquisa encontraram que as aves têm maior chance de cruzar a rodovia (aumentando a chance de serem atropeladas) se a vegetação do outro lado for mais alta, talvez sendo atraídas pela vegetação. Por outro lado, quando a vegetação era mais alta do lado em que as aves estavam ou quando tinha a mesma altura dos dois lados, as aves evitavam os carros e voavam para o outro lado.
Será que isso vale também para outras espécies de aves em outros locais do mundo e o manejo da vegetação poderia ser uma medida mitigadora a ser implantada para reduzir o atropelamento de aves?