
Por Fernanda Zimmermann Teixeira
Bióloga, mestre e doutora em Ecologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). É pós-doutoranda no Laboratório de Ecologia da Paisagem da Carleton University (Canadá) e integrante do Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF-UFRGS)
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Atropelamentos de animais silvestres em estradas são uma ameaça reconhecida à conservação das espécies, com estimativas de 365 milhões de vertebrados silvestres atropelados por ano nos EUA e 475 milhões nas estradas do Brasil. Mas não é só nas rodovias e ferrovias ao redor do mundo que animais silvestres correm riscos de colisões com veículos: isso também ocorre em alto mar!
Colisões de navios com baleias e outros mamíferos marinhos têm sido reconhecidas como uma ameaça para estes animais. De acordo com a Lista de Espécies Ameaçadas da IUCN, 23 espécies de mamíferos marinhos e 16 de tartarugas estão ameaçadas por rotas de navegação.
Navios são responsáveis por mais de 90% do transporte de bens entre diferentes países e mais de 50 mil navios mercantes cruzam os oceanos todos os anos. Algumas rotas de navegação concentram um alto fluxo de embarcações e, em alguns casos, esse alto fluxo coincide com locais onde há uma alta concentração de animais marinhos. Diversos casos de colisões de embarcações com baleias, golfinhos, peixes-boi e tartarugas-marinhas ocorrem nos oceanos.
Transportes marítimos impactam a fauna de diversos maneiras, muitas delas similares aos impactos causados por veículos e trens em rodovias e ferrovias. A mortalidade direta dos animais marinhos por colisões é apenas um dos impactos, mas a lista também inclui poluição sonora e química, que degradam o habitat de muitas espécies. Todos esses impactos podem causar a redução do tamanho de populações de animais, seja no entorno de estradas ou nos oceanos pelo mundo, aumentando as probabilidades de extinção das espécies.
Pesquisadores têm tentado entender quais são os principais fatores de ameaça para colisões entre navios e animais marinhos. Como carcaças de animais marinhos são mais difíceis de encontrar do que animais terrestres atropelados em estradas, muitos estudiosos têm desenvolvido modelos para tentar prever e estimar as causas dessas colisões considerando informações ambientais e das embarcações – como abundância dos animais e velocidade dos navios. Um estudo publicado no periódico Ecosphere em 2013, por exemplo, identificou que os navios envolvidos em colisões com baleias-francas nos Estados Unidos estavam a uma velocidade maior do que o restante dos navios e chegou à conclusão que restringir a velocidade dos navios poderia reduzir as colisões em até 90%.
Estimar a mortalidade desses animais e entender suas causas são caminhos importantes para definir estratégias que visem a diminuição das colisões. O mapeamento de áreas importantes para animais marinhos é um caminho que pode direcionar áreas prioritárias para ações de mitigação. Um exemplo disso é no Parque Marinho Saguenay-Saint Laurent, no Golfo do Rio São Lourenço, no Canadá, uma importante área com mais de oito espécies de mamíferos marinhos, onde foram impostas regras para as embarcações turísticas para avistamento de baleias.
Da mesma forma, o mapeamento de agregações de atropelamentos, rotas de deslocamento e modelos preditivos de colisões de animais terrestres em estradas podem ajudar o planejamento da mitigação desses impactos na fauna aquática.