Por Rubem Dornas
Biólogo, especialista em Geoprocessamento e mestre em Análise e Modelagem de Sistemas Ambientais na Universidade Federal de Minas Gerais. Integra o Transportation Research and Environmental Modelling Lab (TREM-UFMG) e o Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (NERF-UFRGS)
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Morcegos morrem atropelados e esforços têm sido feitos em diversos países para diminuir a sua mortalidade. Um artigo relatando, com surpresa, um desses esforços foi apresentado aqui no Fauna News, há praticamente três anos. Ainda mais admirável é que essa tentativa de atenuar os atropelamentos tenha se dado na França, um país que possui apenas 34 espécies de morcegos.
No Brasil, um artigo recente compilou registros de morcegos atropelados. Os autores contabilizaram 415 óbitos de morcegos de 44 espécies, em todos os biomas do país. Embora o número de mortes seja muito subestimado em função de morcegos serem animais pequenos e muito leves – o que dificulta a sua detecção e permanência na via para seu registro em monitoramentos –, chama a atenção a biodiversidade atingida: apenas de fauna atropelada no Brasil temos 10 espécies a mais do que toda a riqueza de morcegos da França!
O Brasil é um dos países com maior número de espécies de morcegos, sendo conhecidas hoje 182. Entretanto, não há instalada no país qualquer estrutura – sequer para testar sua eficácia com os morcegos daqui – que possibilite a travessia segura desses animais sobre estradas (incluindo ferrovias, onde já avistei esses animais mortos). Mas não era de se surpreender: apesar de o Brasil ter uma notável biodiversidade desse grupo animal, eles raramente são incluídos em estudos de impacto ambiental – o que inclui infraestruturas viárias –, ainda que estradas se mostrem nocivas aos morcegos.
Caso você esteja se perguntando o porquê da preocupação em preservar os morcegos, saiba que eles prestam inúmeros serviços ecossistêmicos (funções que os organismos desempenham e que resultam em benefícios aos humanos). Eles são dispersores de sementes, excelentes controladores de populações de insetos, incluindo alguns que transmitem doenças e atacam plantações, e são também polinizadores de diversas espécies (agradeça a eles por poder tomar tequila!).
Desempenhando papeis tão importantes e com as estradas (e outros tipos de empreendimentos) sendo prejudiciais aos morcegos, será que esses animais não deveriam ser mais comumente incluídos nos estudos de impacto ambiental e seus respectivos programas de monitoramento?