Por Larissa Oliveira Gonçalves
Bióloga e mestre em Ecologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). É doutoranda em Ecologia na mesma universidade, atuando no Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF-UFRGS)
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Cercar estradas é uma das formas tradicionalmente utilizadas para evitar que os animais sejam atropelados. Porém, junto com esse ganho, também há efeitos negativos. Já mencionamos em outros artigos que cercas podem isolar as populações de animais dos dois lados da estrada, causar estresse e outros danos quando os animais entram em contato com ela. Agora, um trabalho de revisão traz uma síntese importante sobre o que se sabe sobre os efeitos das cercas ao redor do mundo.
As interações das cercas com a fauna podem ser diretas (físicas) ou indiretas (comportamentais) e as consequências podem ser positivas e negativas. Cercas não são só usadas como mitigação, elas funcionam principalmente para delimitar territórios, incluindo lavouras e limitar o deslocamento de animais de criação. Quem nunca viu uma cerca por aí? Os pesquisadores estimaram que em Alberta, no Canadá, há 16 vezes mais cercas do que estradas pavimentadas.
Mas quais os efeitos negativos de uma cerca que são apontados pelo estudo? A morte direta pela colisão com as cercas, ferimentos ocasionados pela perda de pelos aprisionados na cerca e o estresse podem ser alguns dos efeitos diretos. Além desses, a exposição à predação, a modificação do movimento e comportamento dos animais e do acesso a recursos naquelas espécies que migram atrás de melhores oportunidades são exemplos de efeitos negativos indiretos.
Cercas podem também ter benefícios para um grupo de espécies e não fazer diferença para outros. Uma cerca instalada em uma estrada pode evitar que mamíferos de grande e médio porte cruzem a estrada, mas talvez a mesma cerca não consiga isolar um pequeno mamífero ou uma serpente. Por isso, é muito importante o entendimento do tipo e extensão das cercas. Já falamos aqui sobre o que fazer com o final das cercas, pois muitas vezes são áreas onde há alta incidência de atropelamentos.
Não há dúvidas de que as cercas são uma boa ferramenta de manejo, mas é necessário reconhecer os seus potenciais efeitos adversos. Sabemos também que em estradas, normalmente, as cercas não vêm sozinhas, sendo implementadas juntamente a medidas para cruzamentos seguros como passagens de fauna subterrâneas ou aéreas. Essa é uma alternativa para diminuir o efeito de barreira das cercas. Entretanto, para esses cruzamentos serem efetivos, os animais devem ainda aprender onde estão localizadas essas passagens seguras e isso pode não ser uma tarefa fácil.
Além disso, também é necessário reconhecer que as cercas são estruturas com um custo elevado de manutenção e, dependendo do material utilizado, elas sofrem deterioração com o passar do tempo e podem ser danificadas com vandalismos – abertura de buracos para passagem humana ou até mesmo roubo. Sabemos de casos em que em poucas semanas, cercas instaladas em uma estrada para mitigar o impacto de atropelamentos de fauna foram roubadas e estragadas.
Faltam ainda estudos que demonstrem o real efeito das cercas na vida silvestre e que possam ajudar os gestores a identificarem quais são os melhores tipos de cercamento para cada ambiente e situação. Fica então um alerta: é necessário sempre pensar qual é o objetivo das cercas e para que grupo de espécies elas devem servir. Se formos ter mais perdas do que ganhos, cercas não são recomendadas.