Por Gabriela Schuck de Oliveira
Graduanda em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e bolsista do Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF-UFRGS)
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A rodovia Transamazônica (BR-230) tem esse nome porque é uma estrada que corta transversalmente a maior floresta tropical do mundo. Sua construção iniciou-se em 1969, com um planejamento de mais de 5 mil quilômetros, do Nordeste até o Peru. Atualmente com 4.223 quilômetros, ela está incompleta, abandonada e em grande parte sem asfalto. O seu objetivo não foi cumprido e trouxe um desmatamento desenfreado na floresta amazônica – tanto para a sua abertura quanto em sua volta. O cenário atual são campos de pastagem, extração ilegal de madeira e ouro, poluição atmosférica e hídrica, entre outros grandes impactos para a natureza.
Tudo isso é consequência do abandono aliado à falta de planejamento, corrupção e ausência de fiscalização. As reclamações, os protestos e os movimentos para a finalização da estrada são recorrentes. Porém, pouco se discute sobre as consequências do término desta imensa obra, que trará a pavimentação e o aumento de sua extensão.
Os estudos de Ecologia de Estradas na região Norte do país são poucos. Não temos noção da magnitude da mortalidade e nem de quem está morrendo por lá, mas sabemos que temos muitos representantes da nossa fauna ameaçada, pois é um dos poucos biomas que oferece uma paisagem extensa (já nem tanto), se compararmos com os retalhos das paisagens dos outros cinco biomas brasileiros.
O estado atual da estrada nos mostra um cenário sem lei. O fluxo de veículos só é possível na época de seca e a maioria do trânsito é de caminhões com produtos extraídos de forma ilegal. A reflexão a ser feita é: caso esse cenário mude, a pavimentação chegue para toda a rodovia e a sua extensão se cumpra, o que acontecerá? Será pior?
Algumas situações podemos prever. A mortalidade de fauna aumentaria (tanto pelo aumento da extensão quanto pela pavimentação, trazendo o aumento de velocidade e do fluxo de veículos), novos interessados em extrair recursos da região teriam o acesso facilitado e novos recursos energéticos seriam necessários (talvez uma nova hidrelétrica ou outra fonte de energia de grande impacto).
Ou então, se continuarmos ignorando a situação atual (a rodovia como está hoje), quanto tempo a Amazônia irá resistir? Realmente é difícil escolher qual lado da balança pesa mais, pois ambos estão desfavoráveis para o meio ambiente e quem sai perdendo em curto prazo é a fauna.
A Amazônia tem mais de 80 mil quilômetros de rios navegáveis. Será que manter a floresta sem o impacto de grandes infraestruturas não seria mais benéfico? O Brasil não precisa industrializar cada área do território nacional. Manter a biodiversidade no longo prazo nos traz mais benefícios do que não tê-la. Como já diria um antigo provérbio indígena: ''… quando a última árvore for cortada, eles vão entender que dinheiro não se come…''