Por Larissa Oliveira Gonçalves
Bióloga, mestre e doutora em Ecologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. É pesquisadora colaborada do Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias da mesma universidade (NERF-UFRGS)
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O número de colisões de veículos com animais domésticos e silvestres no estado de São Paulo reduziu em 32% quando comparados o primeiro semestre dos anos de 2018 e 2019. Essa foi uma ótima notícia divulgada na semana passada em matéria da revista Isto É pela Agência de Transporte do Estado de São Paulo (ARTESP) e tópico do início da semana aqui no Fauna News.
Em São Paulo, mais de oito mil quilômetros de rodovias são concessionadas e, segundo a reportagem, o número de atropelamentos de animais registrados nessa malha caiu de 11.388 para 7.670, sendo os casos com animais domésticos correspondem a 64% do total de registros. Lembrando que os custos monetários certamente também foram reduzidos, pois já abrodamos aqui que a soma das perdas econômicas e compensações nessas estradas paulistas totalizam mais de R$ 50 milhões por ano.
Além de avaliar os números, também é importante entender quais foram as causas dessa redução para que as ações utilizadas possam ser replicadas em outras estradas e Estados.
A ARTESP relata na matéria que o que contribuiu para a redução desses números foi o monitoramento das pistas através de câmeras e a instalação de cercas e passagens de fauna ao longo das vias. Essa última estratégia de mitigação é comprovadamente efetiva para a redução dos acidentes.
Estudos demostram que cercas são efetivas na redução dos acidentes com a fauna, pois, através do bloqueio, diminuem as chances de cruzamento dos animais na via. Contudo, que proporção da redução das mortes em São Paulo decorreu dessa ação específica? Seria muito importante avaliar se segmentos das estradas que receberam medidas mitigadoras tiveram reduções maiores de acidentes do que segmentos que não receberam essas medidas.
Para sabermos se a instalação de câmeras ajuda na redução de acidentes, precisamos de mais detalhes. As câmeras são usadas para monitorar constantemente as pistas e saber se há algum animal (principalmente doméstico) que foi solto ou abandonado na via. Com a identificação do abandono, é possível fazer o resgaste do animal com segurança e evitar acidentes. Seria interessante sabermos se houve mudança do número de resgates com o início da utilização das câmeras, assim conseguiríamos identificar uma possível relação entre o aumento de resgates e a diminuição das fatalidades.
É muito legal saber que o Estado mais populoso do Brasil já tem indicativos de ações que conseguiram reduzir as colisões e as mortes de animais nas estradas, sejam eles domésticos ou silvestres. Saber o porquê dessa redução ainda permanece sendo um importante desafio, mas já temos o que comemorar!