Por Giulia Dorneles Barbieri de Campos
Graduanda em Ciências Biológicas com ênfase em Biologia Marinha e Costeira pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Trabalha junto ao Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF) da mesma universidade
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A implementação e operação de rodovias impacta a fauna direta e indiretamente. O impacto direto mais conhecido é a mortalidade de animais por atropelamento, que ocorre por conta do fluxo de veículos. Em relação à Ecologia de Estradas, esse impacto é provavelmente o mais estudado. Acontece que temos diversos outros impactos que não são tão conhecidos, principalmente por não serem visualizados em nossa passagem pela rodovia – o que não significa que não existam.
São exemplos:
• O desmatamento para implantação de rodovias gera fragmentação e perda de habitat. A perda de habitat pode afetar a persistência de populações no ambiente.
• As rodovias possibilitam acesso a lugares remotos, o que prejudica a fauna existente no local e permite o mau uso desses ambientes.
• O descarte incorreto de resíduos às margens da rodovia.
• Por conta do ruído gerado pela rodovia, os ambientes podem ficar com menor qualidade para sobrevivência dos animais, o que interfere na sobrevivência individual e da espécie.
Ao elencar alguns desses impactos, percebemos como eles não são visualizados e que somente através de estudos mais detalhados conseguimos perceber a existência deles.
Essas interferências afetam negativamente os animais e podem levar a algum ou vários efeitos: escassez de recursos, interferência nas rotas migratórias, dificuldade de comunicação entre indivíduos, entre outros. Não haver animais atropelados numa rodovia não significa que não ocorrem outros impactos.
Podemos não ver, mas esses impactos estão presentes na realidade de muitos animais. O pouco que vemos já é um grande impacto na biodiversidade, que acaba sendo silenciada (não só) pelas rodovias que cruzam o habitat da fauna.
O ideal não seria evitar em vez de minimizar os impactos?
Evitar significa utilizar estratégias que impeçam a ocorrência dos impactos. É diferente de mitigar, em que assumimos que os impactos existem e devem diminuir. Mas qual seria a melhor maneira de fazer isso?
Um dos papéis dos biólogos e ambientalistas é mostrar a importância da biodiversidade para aqueles que não a veem. Ver o animal atropelado muitas vezes sensibiliza o olhar dos usuários da rodovia, o que pode influenciar a ter uma direção segura. Portanto, é importante a população ter conhecimento dos impactos, pois ela também pode auxiliar na sua minimização. Acredita-se que, conhecendo a problemática, algumas situações são repensadas, como o descarte incorreto de resíduos, para evitar o aprisionamento ou ingestão pelos animais, por exemplo.
É através da geração de conhecimento que conseguiremos buscar por alternativas que ajudem a salvar a nossa biodiversidade. Neste caso, do impacto das rodovias.