
Por Gabriela Schuck de Oliveira
Graduada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e mestranda junto ao Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF) da mesma instituição
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Essa é uma coluna de desabafo e de preocupações. Não dá para tratar apenas de Ecologia de Rodovias e fauna sem pensar em tudo que está acontecendo atualmente no governo.
Honestamente, não tínhamos o melhor cenário ambiental no governo passado. Porém, para quem achava que não poderia piorar, estamos à mercê do abismo e do retrocesso ambiental (e também de várias outras pautas).
A tragédia ambiental já estava anunciada antes das eleições, pois já eram explícitas as intenções do atual governo relacionadas a essas questões. Agora, ainda mais trágico, nós temos um representante ambiental desqualificado para a função (conheça o nosso ministro do Meio Ambiente).
Nós estamos em um cenário em que os políticos eleitos na “onda” conservadora possuem o pensamento nacional-desenvolvimentista (não sustentável), no qual a preocupação com o ambiente é referida como um atraso e a punição de crimes ambientais é tratada como indústria de multas.
Já no âmbito de Ecologia de Rodovias, recentemente foram anunciadas duas notícias que podem prejudicar muito a sobrevivência (já difícil) dos animais silvestres no Brasil.
Em nível nacional, o presidente diz que irá trazer paz aos motoristas ao acabar com a indústria de multas nas rodovias federais, cancelando mais de 8 mil novos radares eletrônicos e revendo os que já estão em vigor. Sem entrar na discussão sobre o efeito que essa decisão pode ter para a segurança humana nas vias, uma vez que é comprovada a redução no número de acidentes e de mortes humanas com a presença dos radares, essa decisão também é ruim para a fauna. A alta velocidade de veículos pode aumentar a colisão com animais, pois não há tempo suficiente de reação tanto do motorista como do animal que está atravessando a via.
Existe alternativa para diminuir os gastos com as multas e os conflitos com os motoristas. Ao invés de cancelar os radares, poderia ser feito um ajuste no funcionamento desses equipamentos eletrônicos para os horários de maior movimentação de animais, como por exemplo, durante a noite nos locais em que os radares foram instalados para evitar os atropelamentos de fauna. É claro, sempre planejando para o melhor cenário local, sendo necessária pesquisa para avaliar a efetividade dessa estratégia.
Já em nível estadual, em Goiás, o governador atual vetou o projeto de lei que obrigaria as concessionárias a resgatarem a fauna atropelada. Vale lembrar que nesse Estado ainda temos animais de grande porte (onça, lobo-guará, tamanduá-bandeira e outros já extintos em várias regiões do Brasil), que são frequentemente atropelados e muitas vezes encontrados ainda vivos.
Há uma grande polêmica sobre o resgate de fauna debilitada nas rodovias, com muitas discussões entre biólogos em torno do que fazer, já que muitas vezes os animais não conseguem mais retornar à natureza e a perda para a biodiversidade se equivale a um óbito. Apesar das diversas opiniões sobre o tema, é de senso comum que é um ato de extrema crueldade deixar um animal agonizando após o atropelamento.
Apesar do desabafo triste, vale lembrar que ainda podemos fazer a nossa parte em relação à fauna, como os cuidados básicos nas estradas (respeito às sinalizações, dirigir em horários adequados, etc.). E, é claro, escolher representantes para o governo que tenham pensamentos compatíveis à proteção da natureza, participar de audiências públicas e sempre estar de olho nos candidatos já votados.
Politize-se!
Tratar de proteção da fauna e de Ecologia de Rodovias também é um ato político. Não vamos parar por aqui!