
Por Gabriela Schuck de Oliveira
Graduanda em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e bolsista do Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF-UFRGS)
estradas@faunanews.com.br
Muito já falamos de aves por aqu, Já comentamos sobre o comportamento de reação em relação aos carros, que possuí uma mortalidade elevada por atropelamentos, tendo ainda o acréscimo de não precisar de colisão direta com o veículo para morrer. E também apresentamos as raras estruturas mitigadoras para esse grupo tão impactado pelas rodovias, mas pouco mitigado.
Trago novamente a temática para a coluna após registrar uma ave atropelada sobre um redutor de velocidade (foto abaixo). E, também, para enfatizar a falta de direcionamento como grupo alvo nos planejamentos de medidas mitigadoras. Como já mencionado, é raro uma estrutura mitigadora especifica para aves. Em alguns cenários, tenta-se diminuir essa mortalidade com redutores de velocidade (ainda falta uma avaliação cientifica), o que talvez eliminaria a parcela de aves que morrem por deslocamento de ar devido às velocidades muito altas dos veículos.
As pessoas em geral acham curioso aves serem atropeladas, já que possuem, junto com os morcegos, o mecanismo de escape mais eficiente do que os demais grupos de animais: voar. Mas esquecem de que as aves diferem muito entre elas, tanto morfologicamente como comportamentalmente, sendo essas características importantes para definir uma medida mitigadora ideal.
Tem aquelas que são cursoriais, que realmente vão atravessar uma pista correndo! (vídeo abaixo)
Já algumas aves dificilmente serão atropeladas, como alguns psitacídeos, que costumam voar bem alto e raramente vão até o chão. Já outras utilizam a rodovia em seu benefício, como, por exemplo, os carniceiros para sua alimentação, alguns passarinhos que comem sementes derramadas por caminhões, ou então o curioso hábito dos bacuraus que repousam frequentemente em estradas de chão (fotos abaixo).
Infelizmente, pouco é considerado e realmente estudado sobre as diferenças das aves ao estabelecer uma medida mitigadora de mortalidade em uma estrada (tanto entre as próprias aves quanto entre elas e os outros grupos de animais). Se na maioria das vezes já não consideram as aves como grupo alvo, quem dirá os detalhes comportamentais de cada espécie. Essas considerações devem ser incorporadas no planejamento de mitigações, apesar da diversidade de diferenças ser muito grande, o que gera uma dificuldade para atender amplamente toda a variedade. Prioridades podem ser definidas conforme os comportamentos mais propícios para o atropelamento na região de interesse.