
Por Dimas Marques
Editor-chefe
dimasmarques@faunanews.com.br
Um dos principais fatores que atraem pessoas a criar animais silvestres como bichos de estimação é a vaidade. Para alguns, viver com espécimes considerados perigosos e estranhos é uma forma de se destacar socialmente. Mas esse capricho humano, muitas vezes, cobra um preço alto…
Na segunda-feira, um estudante de veterinária foi picado pela venenosa naja que criava em seu apartamento no Gama (DF) e, hoje, o youtuber Charlie Venom foi detido por ter em sua residência, em Mogi das Cruzes (SP), duas cascavéis e uma urutu, todas cobras peçonhentas.
“Um jovem de 22 anos está em coma induzido após ser picado por uma cobra naja. O incidente com o animal exótico ocorreu nessa terça-feira (7/7), no Gama. A família aguarda resultados de um tratamento feito com soro vindo do Instituto Butantan, de São Paulo. O medicamento chegou a Brasília na noite de terça-feira. O universitário está em estado grave na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Maria Auxiliadora.

Pedro Henrique Santos Krambeck Lehmkul estuda medicina veterinária com ênfase em animais silvestres e exóticos. A naja é comumente encontrada na África, no Sudoeste da Ásia, Sul da Ásia e Sudeste Asiático.
De acordo com informações dos familiares, o estudante teve reação negativa ao soro e o procedimento ficou suspenso até que o paciente volte a ficar estável.” – texto da matéria “Estudante de veterinária é picado por cobra Naja no DF e fica em coma”, publicada em 8 de julho de 2020 pelo portal Metrópoles (DF)
Ainda de acordo com a apuração do Metrópoles, a cobra da espécie Naja kaouthia teria entrado no Brasil, provavelmente, por meio do tráfico de fauna. O animal não foi encontrado no imóvel.
“Conforme fontes policiais relataram ao Metrópoles, o padrasto de Pedro estava do lado de dentro da residência da família, no Guará, onde policiais da 14ª Delegacia de Polícia e fiscais do meio ambiente tentavam negociar a apreensão da serpente. Ele, porém, teria se negado a colaborar inicialmente.
Os oficiais aguardavam um mandado de apreensão em carácter de urgência ser expedido pela Justiça, para que a naja fosse, enfim, capturada. Contudo, após negociações, a entrada no apartamento foi autorizada pela família, mas as autoridades não localizaram a cobra.
No imóvel, policiais e agentes do Ibama encontraram apenas gaiolas onde ficam camundongos usados na alimentação da serpente. As buscas prosseguem.
(…) A PCDF (Polícia Civil do Distrito Federal – comentário do Fauna News) investiga como a naja chegou ao Brasil. Na lista das serpentes mais venenosas do mundo, o paradeiro da Naja ainda é desconhecido. Quem criava o animal não tinha autorização.
A suspeitas de investigadores da Delegacia de Combate à Ocupação Irregular do Solo e aos Crimes contra a Ordem Urbanística e o Meio Ambiente (Dema) é que a serpente tenha sido alvo de tráfico internacional de animais exóticos.
No DF, segundo o Ibama, não existe registro, nos últimos anos da entrada legal de uma serpente desta espécie.” – texto da matéria “Vídeo: após buscas em imóvel, Naja que picou estudante está desaparecida”, publicada em 8 de julho de 2020 pelo portal Metrópoles
A naja foi localizada somente no início da noite em uma caixa, que foi deixada próximo a um shopping center.
YouTuber
Charlie Venom foi detido por policiais civis de Mogi das Cruzes investigação que teve como base os vídeos que publica no YouTube.

“A Polícia Civil de Mogi das Cruzes prendeu um homem suspeito de criar cobras ilegalmente e usá-las para atacar outros animais em vídeos para a internet. Ao todo, três espécies venenosas, incluindo uma rara na região do Alto Tietê, foram apreendidas.
A investigação durou cerca de 20 dias e o suspeito foi localizado no apartamento onde mora, no bairro do Rodeio. Segundo a Polícia, o homem criava os animais há cerca de quatro anos, tem mais de três milhões de visualizações nas redes sociais e é conhecido em todo o país.
“Nós recebemos uma denúncia através da DEPA, que é uma delegacia na internet que a população denuncia maus-tratos aos animais. Ele postava vídeo de uma das cascavéis atacando um porquinho-da-índia de uma forma cruel. [A cobra] mordendo e ele agonizando até a morte”, descreve o chefe dos investigadores do 1º Distrito Policial, Luís Roberto Burg de Mello.
No local os policiais encontraram duas cobras da espécie cascavel e uma urutu, para qual não existe soro antiofídico na cidade. Mello diz, ainda, que o homem tentou resistir à prisão e que se negou a entregar uma das serpentes.
(…) O veterinário Jefferson Renan de Araújo Leite, da Divisão de Zoonoses, participou do resgate. Segundo o especialista, a urutu, rara no Alto Tietê, é mais comum no interior de São Paulo e em áreas de serrado. Ele afirma que as três são venenosas e que podem provocar diferentes danos ao ser humano.” – texto da matéria “Polícia de Mogi das Cruzes prende suspeito de criar cobras ilegalmente e usá-las para atacar animais em vídeos para internet”, publicado em 8 de julho de 2020 pelo portal G1

Em um de seus vídeos, Charles Venon admite que está com uma serpente ilegal. Ele faz uma enquete com moradores de Mogi das Cruzes sobre se as pessoas o denunciariam caso fossem seu vizinho e soubessem que ele cria cobras venenosas. O pessoal do vídeo disse que não, mas alguém fez o certo e informou a Polícia.
Talvez, o denunciante tenha salvado a vida do confiante e irresponsável Charles Venon – que nos seus vídeos oferecia as cobras para crianças tocarem, alegando ser educação ambiental..
Pena que ninguém denunciou Pedro Henrique, que hoje luta pela vida em uma UTI.
Sobre as outras vítimas, as cobras, estão condenadas ao cativeiro.