
Por Larissa Oliveira Gonçalves
Bióloga e mestre em Ecologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). É doutoranda em Ecologia na mesma universidade, trabalhando junto ao Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF-UFRGS).
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Na maioria das vezes, pensamos de uma maneira muito pontual nos efeitos que as rodovias têm sobre o ambiente e nas medidas de mitigação que podemos propor para minimizá-los. Com pontual quero dizer que, normalmente, olhamos para um empreendimento separadamente sem avaliar os efeitos cumulativos ou ainda os efeitos de vários empreendimentos. Um exemplo, e também uma autocrítica, você pode retirar rapidamente das nossas colunas anteriores: ou são focadas em medidas ou em impactos locais.
Portanto, não é satisfatório pensar essas infraestruturas de forma individual quando se tem uma rede imensa de estradas (Figura 1) com seus diferentes efeitos e pressões. Avaliações sobre a influência da rede de empreendimentos lineares como um todo já existem na literatura, mas no processo de licenciamento, esses empreendimentos sempre são tratados de maneira isolada. Nem sei se cabe entrar no debate sobre a fragilidade do licenciamento ambiental brasileiro ou da sua possível extinção. Hoje, quero destacar que além dessas avaliações e medidas pontuais, precisamos começar a pensar de uma maneira mais ampla através da priorização de áreas que são mais ou menos adequadas para a expansão rodoviária ou então mais ou menos indicadas para conservação da biodiversidade.
Uma maneira de pensar isso foi proposta por William Laurence e seus colegas em um artigo publicado na revista Nature, no qual eles propõe uma estratégia global para a construção de rodovias. Pensando que há o planejamento de uma imensa expansão da rede viária no mundo e que não há maneira de impedi-lo integralmente, pois afinal, precisamos das estradas para o transporte de nossos alimentos e outros produtos, temos que fazer isso de uma maneira organizada. Quais seriam as melhores áreas para essa expansão? Além dessas, quais seriam as melhores para que nunca houvesse estradas?
Através da sobreposição de várias informações sobre a biodiversidade, sobre áreas com potencial agrícola, sobre o clima, sobre a distribuição das estradas e dos mercados consumidores, entre outras, os autores apresentaram um mapa em que podemos avaliar quais seriam as áreas que poderiam ser prioridade para a expansão rodoviária e o desenvolvimento agrícola e quais seriam as áreas que as estradas deveriam ser evitadas, aquelas com maior valor ambiental (Figura 2). Interessante é notar que talvez seja mais vantajoso economicamente adensar e aumentar a eficiência de transporte em áreas que já são exploradas e próximas aos mercados consumidores do que expandir as áreas agrícolas para lugares ainda não explorados.
As áreas livres de estradas têm um alto valor na contribuição para a conservação da biodiversidade. Assim, é de suma importância identificar onde estão essas áreas e tentar ao máximo evitar a construção de estradas nas suas proximidades. Trabalhos como o citado acima podem nos ajudar a direcionar onde precisamos focar os esforços para entender melhor os efeitos das estradas e maneiras de reduzi-los pontualmente.