
Por Andreas Kindel
Biólogo, professor associado da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e coordenador do Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias da mesma universidade (NERF-UFRGS)
andreaskindel@faunanews.com.br
Notícias sobre os trágicos números de mortalidade de fauna nas estradas brasileiras, bem como de inúmeros acidentes com vítimas humanas, tornaram-se comuns na imprensa. Embora essa seja a face mais visível e talvez chocante da interação entre as estradas e a fauna silvestre, os efeitos vão muito além, incluindo a transformação da paisagem do entorno (às vezes longínquo) dessa infraestrutura através de mecanismos como o acesso a novas áreas para ocupação agrícola e urbana, a contaminação química, ruídos, acesso de caçadores e coletores de animais, entre outros.
Não há dúvida que estradas são um vetor importante de desenvolvimento e conexão entre pessoas e sociedades, mas alguns de seus efeitos colaterais se tornaram inaceitáveis em virtude da sua onipresença e, muitas vezes, falta de planejamento e gestão. O que fazer? Por que fazer? Quem deve fazer?
Comecei a me envolver com este tema em 2004 e a medida em que mergulhávamos, eu e meus alunos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, na busca de respostas para estas perguntas, identificamos que mudanças na realidade que encontrávamos só viriam se houvesse uma transformação na forma como planejamos, construímos e usamos essas estradas. Tais mudanças dependem de suporte popular e aceitei o gentil e assustador (nunca fiz isso antes) convite do Fauna News para escrever neste espaço porque entendi que essa é uma oportunidade de dialogar com o grande público e desta forma difundir e identificar possíveis soluções.
Minha intenção, aqui no Fauna News, é comentar inúmeras iniciativas que vêm sendo colocadas em prática por usuários de rodovias, empreendedores, gestores e consultores ambientais, acadêmicos e ONGs, com ênfase especial no Brasil, mas não raras vezes explorando experiências de países com histórico mais longo de preocupação com esse tema. Minha expectativa é que possa, além de dar visibilidade a essas iniciativas, provocar reflexões (em você e em mim) que possam estimular o nosso envolvimento na busca ou apoio às inúmeras intervenções necessárias para reverter esse quadro de carnificina.
Espero reencontrá-lo a cada quinze dias com boas histórias e provocações.
Assista à matéreia da TV Rondônia, de janeiro de 2011, que exemplifica os riscos para animais e humanos nas estradas: