Por Dimas Marques
Editor-chefe
dimasmarques@faunanews.com.br
“Na Semana do Meio Ambiente, a Polícia Militar Ambiental divulga alguns dos seus resultados operacionais do ano de 2020, consolidados de janeiro a maio.
Ao todo, o Policiamento Ambiental resgatou ou apreendeu 7.242 animais. A grande maioria, de 6.088 animais, faz parte da nossa fauna silvestre, estava em cativeiro ilegal e, após a apreensão, foi destinada para recuperação e soltura no meio ambiente natural. Os animais domésticos e exóticos são destinados à guarda junto aos órgãos autorizados.
O tráfico, o comércio e o cativeiro ilegal de animais é a terceira atividade que mais movimenta dinheiro ilícito no mundo.
O que chama atenção é a marca de 6.709 armadilhas apreendidas. Entre alçapões, arapucas, lanças e até estilingues, está o “canhãozinho”, que é uma arma de fogo artesanal, colocada na mata em regiões de passagem da fauna e que dispara a uma curta distância, quando acionada pelo próprio animal, muitas vezes atraído por alimento deixado pelo caçador. Nas trilhas, eventualmente esse tipo de armadilha pode atingir seres humanos.” – texto de post publicado em 2 de junho de 2020 pela PM Ambiental de São Paulo em sua página no Facebook
Muita gente, principalmente as que residem em grandes cidades, imagina que caça e tráfico de animais são realidades de regiões distantes, em áreas de vegetação conservada, longe das cidades. Quem mora em boa parte do estado de São Paulo, que é ocupado por grandes cidades e vastas áreas agrícolas, pode pensar da mesma forma.
Mas a realidade é outra. Bem diferente…
O tráfico de fauna silvestre é mantido, no Brasil, principalmente pelo desejo das pessoas em criar esse tipo de animal como bicho de estimação. São pássaros, papagaios, cobras, iguanas, jabutis e pequenos primatas mantidos em cativeiro por pessoas comuns, que diariamente trabalham e sustentam suas famílias; cidadãos acima de qualquer suspeita.
São essas pessoas que, mesmo sabendo tratar-se de algo ilegal, ainda compram de traficantes, seja em feiras ou pela internet, animais retirados da natureza. É cultural e ainda bastante aceito socialmente.
E vale ressaltar que são justamente as pessoas que moram nas cidades as responsáveis por adquirir animais dos traficantes. Em território paulista, ganha destaque a Região Metropolitana de São Paulo, uma das maiores “consumidoras” de fauna silvestre traficada do Brasil.
Sobre a caça, o caráter cultural da atividade ilegal é o mesmo do tráfico de fauna. Apesar de socialmente ser menos aceita, principalmente nos ambientes urbanos, ela ainda é bastante praticada no Brasil e em São Paulo. É uma caça de “entretenimento” ou para conseguir uma carne diferente, uma iguaria. Pesquisa encomendada pelo WWF-Brasil ao Ibope e divulgada em 2019 indicou que 93% dos brasileiros são contra a caça.
Ainda que ilegais, o tráfico e a caça persistem no Brasil. A ausência de legislação realmente punitiva (ninguém fica preso por matar ou vender ilegalmente um animal silvestre) e, principalmente, de um projeto educativo e de conscientização do poder público realmente comprometido em combater essas atividades permitem que a fauna nativa brasileira continue sofrendo e sendo atacada.
O Estado brasileiro pode colocar todo o efetivo de suas polícias para reprimir esses crimes que não conseguirá resultados realmente positivos. Sem lei forte e, sobretudo, mudança cultural, criar animal silvestre como bicho de estimação e caçar continuarão existindo com força na sociedade.
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