
Por Dimas Marques
Jornalista, pesquisador do Diversitas-USP e editor responsável do Fauna News
dimasmarques@faunanews.com.br
“Uma operação coordenada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), com o apoio do Batalhão de Polícia Ambiental (BPA), da Polícia Militar (PM) e do Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA) resgatou cerca de 79 aves silvestres que estavam sendo capturadas no extremo norte da APA em Colônia Leopoldina. Três pessoas foram presas acusadas de tráfico de animais.
A operação de fiscalização aconteceu entre os dias 22 e 25 e percorreu as cidades de Murici, Messias e Flexeiras.
Em um trecho da BR-101, duas pessoas foram presas transportando 32 aves silvestres, sendo sete da espécie saíra-sete-cores, espécie endêmica e ameaçada de extinção.
Além da prisão em flagrante, os acusados receberam multas, em um total de R$ 127.500. De acordo com informações do ICMBio, a dupla ainda irá responder um processo administrativo e penal dos crimes de transporte e armazenamento de aves silvestres.
Em outra abordagem, um homem foi preso em flagrante por porte ilegal de arma de fogo. Nove armas e munições, nove armadilhas, do tipo tatuzeira, e 120 gaiolas e alçapões foram apreendidas. Ainda segundo informações do ICMBio, 99 aves foram resgatadas.
Um restaurante especializado em vender carne de caça foi autuado. No local, foram encontradas carnes de de tatu, quati e paca. Em uma residência, os fiscais encontraram carcaças de tamanduá mirim, iguana e cutia.” – texto da matéria “Mais de 70 aves silvestres são resgatadas durante operação de fiscalização”, publicada pelo site alagoano Gazeta Web em 26 de agosto de 2018
Criar animais silvestres como bichos de estimação e comer carne de caça. Taí dois costumes totalmente desnecessários, causadores de grande impacto negativo ao equilíbrio dos ecossistemas e que deveriam ser combatidos com mais competência pelo poder público. Para reduzir ambas as atividades, não basta que o Estado brasileiro envie seus agentes de repressão. Mais do que isso, é necessário atuar para a conscientização da população.
No Brasil, há um forte costume de criar animais silvestres como pets. Da mesma forma, há quem goste de provar, como iguaria, a carne desses bichos. E a retirada constante de espécimes da natureza pode causar mais do que a trágica extinção de algumas espécies (a saíra-sete-cores, apreendida na operação, por exemplo, está ameaçada de desaparecer). A redução das populações, ou seja, da quantidade de indivíduos, pode afetar a saúde das matas, a qualidade das águas e até a agricultura. Sem contar o risco de contrair doenças pelo contato com essa fauna ou seu consumo como alimento e o aumenta da quantidde de armas em circulação.
Isso tudo tem de ser explicado para as pessoas, de forma simples e constante. Não bata uma campanha. Tem de ser permanente esse trabalho para que, em algumas gerações, a redução de tais costumes seja sentida.
Mas, sinto afirmar, o poder público – seja União, Estados, Distrito Federal ou Municípios – está longe de atuar dessa forma. Para piorar, há ainda iniciativas tentando liberar a caça comercial e esportiva no país (projeto de lei 6.268/2016, do deputado federal Valdir Colatto – MDB de Santa Catarina) e querendo implantar a Lista Pet, a lista de espécies da fauna silvestre que poderão ser reproduzidas e comercializadas como bichos de estimação, que está em discussão no Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama).
O Brasil, país com uma das mais ricas biodiversidades do mundo, não assume um protagonismo rumo a formas realmente modernas de conservação. Ainda estamos presos a modelos historicamente marcados pela exploração sem controle ou com controle deficiente da natureza, o que resulta em desequilíbrio nos ecossistemas, sofrimento animal, gastos de recursos públicos e problemas para a manutenção da qualidade de vida humana.
– Leia a matéria completa da Gazeta Web
– Saiba mais sobre o PL da Caça, do deputado federal Valdir Colatto (MDB-SC) no site do Todos Contra a Caça
– Saiba mais sobre a Lista Pet no site do Conama