
Uma recente expedição realizada por pesquisadores da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) à bacia do rio Tapajós, na Amazônia brasileira, resultou na descoberta e descrição formal de duas novas espécies do gênero Hoplisoma, um tipo de cascudo. Os peixes, batizados de Hoplisoma noxium e Hoplisoma tenebrosum, tiveram sua descrição taxonômica detalhada em estudo publicado em 4 de abril na revista Neotropical Ichthyology.
O artigo também apresenta uma ampla discussão sobre a relação entre a anatomia do mesetimoide, um osso da cabeça, e o formato do focinho dentro da subfamília Corydoradinae, pequenos cascudos predadores de invertebrados. Segundo os pesquisadores, as modificações relacionadas ao focinho têm um impacto direto na interação dos peixes com o ambiente, especialmente em relação à alimentação.

A pesquisa revelou que o formato do focinho, por si só, não é tão informativo quanto se pensava, com diferentes tipos de focinho ocorrendo independentemente nos diversos gêneros. É um indicativo de convergência adaptativa, que ocorre quando espécies que não são estreitamente relacionadas evoluem independentemente com características semelhantes como resultado de terem se adaptado a ambientes ou nichos ecológicos (funções) parecidos.
Toxina forte
Outro achado durante a expedição foi a constatação, através do conhecimento dos “piabeiros” — ribeirinhos coletores de peixes ornamentais —, de que as duas novas espécies têm uma toxina extremamente forte, muito mais potente do que a de outras espécies de Corydoradinae conhecidas. Segundo os nativos da região, ser “espetado” por esses peixes causa dor intensa, inchaço e vermelhidão, e eles podem rapidamente matar outros peixes no mesmo recipiente de transporte, tornando a água leitosa e espumosa. Esse conhecimento tradicional dos ribeirinhos se mostrou crucial para a compreensão das características únicas dessas novas espécies.