Dia da Mata Atlântica: desafios e estratégias de solturas no bioma

Hoje, 27 de maio, comemoramos o Dia da Mata Atlântica, um bioma que abriga inúmeras espécies e possui uma grande importância ambiental. Infelizmente, também é um dos mais destruídos; talvez esquecido ou engolido pelas cidades e todos os tipos de empreendimentos de diferentes tamanhos e impactos. Em homenagem a essa data, trago uma reflexão sobre a eficácia das solturas sob a perspectiva de duas ações vinculadas ao Plano Nacional de Ação (PAN) para Conservação das Aves da Mata Atlântica. Uma das ações visa estabelecer um protocolo mínimo para soltura, enquanto a outra busca reduzir os problemas causados por solturas indiscriminadas.

O PAN Aves da Mata Atlântica estabelece estratégias prioritárias de conservação para 114 espécies ameaçadas de extinção constantes da Lista Nacional de Espécies Ameaçadas de Extinção, além de beneficiar muitas outras. Sob a coordenação do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Aves Silvestres (Cemave) do ICMBio,  o plano tem objetivo de “estabelecer e implementar medidas para a manutenção e recuperação das populações de espécies do PAN Aves da Mata Atlântica em cinco anos”. O primeiro ciclo ocorreu de 2017 a 2022 e o segundo ciclo, iniciado em 2023, tem previsão de término em 2028.

Entre seus quatro objetivos específicos, este Plano de Ação Nacional foca em melhorias para o hábitat, redução de caça, capturas e tráfico de fauna, controle de espécies exóticas e manejo adequado in situ e ex situ. É neste último que encontramos ações direcionadas a solturas, incluindo daquelas que mencionei.

De acordo com o PAN Aves da Mata Atlântica, esse bioma é o que possui maior número de aves ameaçadas. Muitas vezes, essas aves são retiradas dos seus hábitats de forma ilegal, mas algumas acabam apreendidas e precisam ser destinadas. Os dados sobre a área original da Mata Atlântica e o que restou sempre impressionam, reforçando a gravidade do problema. Originalmente a Mata Atlântica chegou a ocupar 1.300.000 km², presente em grande extensão na região leste do país. O resultado de uma degradação sem limites, de uma exploração de forma predatória dos recursos naturais, é que restam apenas cerca de 24,3% da sua cobertura original, conforme os destaques do MapBiomas Mata Atlântica. Essa redução tem um efeito no tamanho das populações e na capacidade de suporte do ambiente, o que implica diretamente nas iniciativas de soltura, reforçando a importância de critérios mínimos.

Planejamento das solturas é importante

A soltura é a essência desta coluna e, em condições adequadas, não tenho dúvidas de que é o caminho a ser seguido. Porém, nem sempre é a alternativa correta sob a perspectiva da conservação, visto que, quando realizada de forma descontrolada, pode trazer mais malefícios do que benefícios. Por isso é tão importante o devido planejamento das solturas, para que a solução do problema da superlotação dos centros de triagem e reabilitação de animais silvestres (Cetras) não se transforme em um problema de desequilíbrio dos ambientes naturais.

O Guia de Identificação de Aves Traficadas no Brasil, produto do primeiro ciclo do PAN, traz informações e auxilia na tomada de decisões durante ocorrências de apreensões de aves. Nele é possível encontrar critérios de destinação dos animais, estejam machucados ou saudáveis.

Animais saudáveis que forem capturados em gaiolas devem ser transportados imediatamente para centros de manejo de fauna silvestre. Para aqueles que acabaram de ser capturados por arapucas, alçapões ou outras formas de captura, a soltura deve seguir critérios específicos, respeitando as seguintes premissas:

• identificação correta do animal;
• certeza da ocorrência da espécie na área de soltura (introduzir animais fora da sua área de ocorrência natural é crime e pode trazer diversos problemas aos ecossistemas, disseminação de doenças e a morte do animal solto);
• o animal deve ter saúde perfeita;
• certifique-se de que o animal não foi “amansado” pelo homem (certeza de origem selvagem);
• a área de soltura deve ser adequada, podendo ser a mesma área em que a ave foi capturada ou possuir o mesmo tipo de vegetação; não devendo possuir histórico ou evidências de caça ou apanha de animais; deve ter alimento suficiente para os animais e não contar com histórico de epidemias envolvendo fauna silvestre;
• ter autorização para soltar o animal naquela área;
• é altamente recomendável marcar o animal com marcação visual (anilhas), quando possível, ou registrar marcas naturais que a ave possua e que permitam a identificação visual individual;
• registrar as informações da soltura em fichas e/ou banco de dados, preferencialmente anexando fotos de cada animal.

Às vezes, nosso entusiasmo, angústia e ansiedade para ver os animais retornando à natureza nos impedem de avaliar com rigor os benefícios dessas solturas.

Translocação contribui para a conservação das espécies

A conservação deve focar nas espécies como um todo, beneficiando populações e indivíduos. Para esclarecer esse complexo assunto e abordar a questão da translocação (move indivíduos ou populações selvagens de uma espécie de um local para outro), o biólogo do Instituto de Biologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro desde 2009, diretor-executivo do Refauna desde 2021 e articulador e colaborador do PAN Aves da Mata Atlântica, Marcelo Rheingantz, compartilhou um pouco do seu conhecimento sobre o tema.

Marcelo também é membro do Grupo de Especialistas em Translocações para Conservação e coordenador da espécie Lontra longicaudis no Grupo de Especialistas em Lontras, ambos da União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês). Foi o coordenador da Força-tarefa para Translocações de Fauna no Brasil e é um dos fundadores da Rede Brasileira de Translocações para Conservação. É também membro do Grupo de Acompanhamento do Programa de Manejo Populacional de Bugio-ruivo (Alouatta guariba).

Ele busca compreender como os animais interagem com o ambiente ao seu redor, como as ações humanas os afetam e a desenvolver maneiras de restaurar ambientes a partir de translocações para conservação. Atualmente, trabalha com ecologia e conservação de populações de vertebrados e na implantação de técnicas de manejo da fauna, como a reintrodução e o planejamento de translocações. É ainda National Geographic Explorer desde 2020.

Tatiane Rech – Como programas estruturados de translocação podem contribuir para a conservação das espécies?Marcelo Rheingantz – Esses programas objetivam trazer algum benefício para populações, para espécies ou para ecossistemas. Portanto, eles podem ser voltados a estabelecer populações em áreas onde a espécie já ocorreu e não ocorre mais, o que é conhecido como reintrodução. A reintrodução visa restaurar não só a população da espécie-alvo, mas também as interações ecológicas que a espécie possui com outras espécies presentes na área, restaurando também o ecossistema.

Os programas de translocação podem também ajudar a recuperar espécies em risco de extinção, sobretudo as criticamente ameaçadas. Temos alguns exemplos no Brasil, como a reintrodução do mico-leão-dourado (Leontopithecus rosalia), que fez com que a população global da espécie saísse de aproximadamente 200 indivíduos remanescentes na natureza na década de 1970 para mais de quatro mil nos dias de hoje, após 40 anos. Com a translocação de indivíduos entre populações, envolvendo tanto com animais que vieram de ambientes sob cuidados humanos como de outros fragmentos do bioma, houve conexão de populações que antes estavam isoladas, aumentando o fluxo de material genético entre elas e melhorando a diversidade genética de outras populações isoladas.

Outra contribuição possível de programas de translocação é aumentar a diversidade genética de populações pequenas ao integrar indivíduos de diferentes populações. As translocações para conservação podem ainda salvaguardar indivíduos de uma espécie ou população criticamente ameaçada para ambientes mais seguros e adequados, evitando a perda destes indivíduos de uma linhagem única e importante para espécie. E, quando as ameaças e riscos diminuírem, retornar com os indivíduos para o ambiente adequado dentro da área de ocorrência histórica da espécie.

Existem diversos exemplos mundo afora. Um bem interessante é o do martim-pescador-de-guam (Todiramphus cinnamominus), de uma ilha do Pacífico que teve a introdução de uma cobra que levou essa espécie de ave a estar extinta na natureza, só restando indivíduos sob cuidados humanos. Como a cobra ainda está presente na ilha, a estratégia considerada é introduzir o martim-pescador em uma outra ilha próxima em que a cobra não está presente para os animais viverem em ambientes naturais. No caso de a invasão da cobra ser revertida em Guam, pode-se translocar essas aves para a área de distribuição original. Nesse caso, além de garantir a não extinção da espécie globalmente, a estratégia reverte a extinção da espécie na natureza. Portanto, translocações auxiliam a reverter extinções de espécies tanto localmente como globalmente.

Por último, a translocação pode ter objetivo de restaurar interações tróficas e o funcionamento de ecossistemas, como nós do Refauna temos observado com a reintrodução das cutias no Parque Nacional da Tijuca, no Rio de Janeiro. Somente em áreas que tem cutias ocorre dispersão e predação de sementes de cutieiras, por exemplo. Ou seja, somente a cutia é capaz de abrir o fruto da cutieira e comer as suas sementes. E mais, as cutias enterram algumas das sementes para consumir quando tem menos alimento na floresta. Algumas das sementes são esquecidas e germinam, dando origem a novas cutieiras.

Tatiane Rech – Quais são os benefícios específicos dos programas de translocação para aves em risco de extinção na Mata Atlântica?
Marcelo Rheingantz – A Mata Atlântica é o bioma mais ameaçado do mundo. Historicamente, a ocupação europeia começa a partir do litoral brasileiro, que era basicamente Mata Atlântica. Hoje, 70% da população brasileira vive onde havia Mata Atlântica originalmente, em cidades como São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Curitiba, Florianópolis, Vitória e outras em regiões em que tínhamos ambientes naturais do bioma. Além da conversão para urbanização, uma parcela significativa foi convertida em áreas agrícolas. É o bioma que foi mais afetado e modificado no país desde 1.500.

Estimativas recentes estimam que restam de 12% a 16% da área que existia de Mata Atlântica quando os europeus começaram a ocupação do território. E o que resta são ilhas de áreas naturais em meio a uma paisagem degradas, com a maioria dos fragmentos com menos de 50 hectares. Além da destruição dos hábitats naturais, houve muita caça, o que dizimou a maior parte das espécies de grande porte. Com isso, os fragmentos que restam são ilhas de floresta sem diversas espécies da fauna, o que conhecemos como “florestas vazias“. Em florestas vazias, as interações tróficas que as espécies extintas tinham são perdidas, o que leva a todo ambiente colapsar no longo prazo. 80% das árvores de florestas tropicais dependem de animais para dispersarem suas sementes. Sem os animais, essas árvores vão deixar de existir porque não têm dispersores.

O grupo do professo Mauro Galetti mostrou que em áreas que tem jacutingas (Aburria jacutinga), uma ave endêmica de Mata Atlântica, as sementes da palmeira-juçara (Euterpe edulis), planta também ameaçada, são maiores do que em áreas em que a ave está extinta. Ou seja, a jacutinga influencia até mesmo na evolução do palmito. E as jacutingas comem muito palmito e contribuem para a manutenção e aumento da quantidade de palmeiras por dispersarem suas sementes. Portanto, o primeiro benefício que translocações de aves podem trazer para ambientes de Mata Atlântica é a restauração de interações ecológicas, entre elas predação e dispersão.

Outro benefício, como já expliquei, é reverter extinções e reestabelecer populações de aves ameaçadas em áreas onde estavam extintas por conta de destruição do hábitat e da caça, contribuir para aumentar o número de indivíduos da espécie em ambientes naturais, aumentar a viabilidade de populações pequenas dessas espécies e aumentar o número de áreas com a espécie-alvo, contribuindo para melhorar o seu status de conservação. O aumento de indivíduos onde as populações são pequenas acaba por fortalecer essas populações, diminuindo as chances de extinção local delas por desastres naturais causados pelas mudanças climáticas, por exemplo.

Outro benefício das translocações é engajar e sensibilizar pessoas de comunidades locais e turistas pela conservação, enfatizando a importância da proteção das aves nativas e de seus ambientes. Por fim, translocações podem aumentar a diversidade genética de populações pequenas dessas aves, aumentando o fluxo gênico com a translocação de indivíduos entre populações isoladas.

Tatiane Rech – Quais são as chances e os desafios da integração de aves sob cuidados humanos, nascidas ou não em ambientes ex situ, em projetos de translocação?
Marcelo Rheingantz – Instituições que trabalham com conservação ex situ, ou seja, com animais em cativeiro, são fundamentais para a conservação de espécies, sobretudo considerando projetos de translocação. Como mencionei antes, projetos de translocação podem reverter extinções de espécies. Um exemplo recente que vimos no Brasil é a reintrodução das ararinhas-azuis. Não tinha mais nenhum indivíduo da espécie em ambiente natural. E todos os indivíduos que estão sendo liberados nasceram sob cuidados humanos. Agora, temos a espécie voltando ao seu ambiente natural com animais que vieram de instituições ex situ. Mas essas instituições podem fazer parte de programas de translocação, tanto com reintrodução quanto com reforço populacional. Com isso, animais mantidos sob cuidados humanos podem auxiliar no aumento do número de indivíduos em uma população selvagens na reversão também de extinções locais. Esses indivíduos podem ainda aumentar a diversidade genética, especialmente se os programas de reprodução em cativeiro forem bem administrados e com mapeamento genético das populações. Animais mantidos sob cuidados humanos também permitem maior controle sobre a origem, a saúde e a genética dos indivíduos a serem soltos.

O principal desafio da utilização de animais que nascem sob cuidados humanos em projetos de translocação é que estes indivíduos podem ter dificuldades em encontrar alimento, evitar predadores e se integrar socialmente com indivíduos selvagens. Os animais podem simplesmente não entender como se comportar como indivíduos nascidos na natureza. Outro risco é a possível transmissão de doenças de aves de cativeiro para populações selvagens. Ainda, o desafio que existe é que manter os animais sob cuidados humanos para serem usados em inciativas de translocação exige pessoal capacitado e custos com manutenção dos recintos, alimentos, treinamentos, avaliação sanitária, tratamentos eventuais e outros.

Tatiane Rech – Quais são as consequências de solturas de espécimes sem o devido planejamento?
Marcelo Rheingantz – Translocações envolvem risco. Então, mesmo translocações bem planejadas e executadas podem não conseguir atingir os objetivos pretendidos. As liberações de espécimes, mesmo sendo bem-intencionadas, podem levar a diversas consequências negativas para a área de soltura. Por isso, além do planejamento e preparação até a liberação, é fundamental que translocações tenham monitoramento de longo prazo para avaliar se os resultados pretendidos estão sendo de fato atingidos. E caso os resultados sejam negativos, o manejo previsto pode ser reavaliado e muitas vezes modificado. Uma ótima ferramenta para isso é o manejo adaptativo, em que os resultados influenciam nas decisões de manejo que serão tomadas mais adiante.

O monitoramento é importante também para decidir quando parar as ações de translocação, o que se chama de estratégia de saída – que pode existir tanto quando se atinge o resultado pretendido como quando as translocações não vão conseguir atingir o objetivo. Mas sobre as solturas, os riscos que existem são diversos. Um dos principais é a transmissão de patógenos para indivíduos que não possuem imunidade contra o agente causador, o que pode levar à transmissão de doenças em diversas espécies e até mesmo à sua extinção. Outro impacto possível é a população atingir grandes densidades, podendo levar a efeitos deletérios em outras populações ou mesmo desestabilizar toda dinâmica ecossistêmica. Alguns exemplos disso são competição com outras espécies ou predação.

Em translocações mal planejadas podemos ter alta mortalidade dos indivíduos liberados porque os animais não entendem como se comportar como um animal selvagem. Caso haja translocação de unidades filogenéticas distintas das da área-alvo, podemos ter hibridização entre subespécies ou unidades filogenéticas, comprometendo a integridade genética da população ou mesmo de toda a espécie. Por desconhecimento, as pessoas que realizam a liberação podem acabar muitas vezes introduzindo espécies que nunca ocorreram na área, o que pode acabar se tornando um grande problema, conhecido como invasão biológica. A população invasora pode atingir grandes densidades e eliminar espécies nativas da área. Esse é um problema gravíssimo e muito comum. Só ver o caso do mico-estrela, uma espécie de hábitos muito flexíveis e que está invadindo diversas florestas do Sudeste do Brasil. Os micos predam ovos de aves nativas, levando à diminuição e até mesmo extinção de algumas delas, incluindo de espécies ameaçadas. Existem diversos exemplos também com aves, como a liberação de tucano-toco e caturritas em zonas fora de suas distribuições originais, como ocorre na cidade do Rio de Janeiro, por exemplo.

Outra consequência é afetar a evolução de espécies. Já foi demonstrado que a liberação de indivíduos de algumas espécies de passeriformes com ampla distribuição em áreas longe de sua origem está afetando o dialeto dessas aves e simplificando o canto. Com isso, é possível que se perca linhagens filogenéticas únicas. Por último, outro potencial problema é não ter avaliação adequada da área de liberação, como avaliação da capacidade suporte do local, ou seja, qual o número máximo de indivíduos daquela espécie que o ambiente suporta, e também desconsiderar alguns aspectos inerentes da própria espécie, como se a espécie tem hábitos territorialistas. Aí o que muitas vezes ocorre é você liberar mais animais do que a área suporta ou liberar muitos animais do mesmo sexo em uma área menor do que a área de vida de um único animal, o que leva à morte de diversos deles por brigas com outros. Isso é bem recorrente com trinca-ferros, uma das espécies que é mais comum nos centros de triagem de animais silvestres (Cetas). Como quem canta mais são os machos e existem competições de canto Brasil afora, 95% dos trinca-ferro (Saltator similis) que chegam ao Cetas são machos. Em solturas, muitas vezes se libera dezenas de trinca-ferro juntos numa área pequena. Certamente, a maioria deles não sobrevive. Mas como não se monitora, esses dados não são computados. Então, nos livramos de um problema, o excedente de animais nos centros de triagem e criamos outros diversos por não haver o devido planejamento.

Tatiane Rech – Considerando a grande quantidade de aves apreendidas e a necessidade de soltura rápida, quais critérios mínimos devem ser seguidos?
Marcelo Rheingantz – É uma questão complexa e que tem que ser discutida com as diferentes instituições envolvidas com liberações de animais. Os centros de triagem recebem milhares de animais todos os meses e precisam pensar em otimizar os recursos disponíveis e onde liberar as aves. E os critérios vão ser diferentes de espécie para espécie. Mas pensando genericamente, o mínimo que tem que ser feito para começar a organizar essas liberações é:

• identificação correta das espécies e das unidades filogenéticas para assegurar que sejam soltas nas suas áreas de distribuição natural. É altamente recomendado confirmar com especialistas do táxon;
• avaliação clínica, sanitária e sexagem das aves, garantindo que estão saudáveis, com condições físicas e clínicas de serem liberadas. Isso passa por avaliar a presença ou não de alguns patógenos como circovírus, H5N1 e outros;
• avaliação da adequabilidade ambiental e da capacidade suporte das áreas de liberação;
• considerar a biologia da espécie para definição da melhor estratégia de soltura, bem como número de indivíduos liberados em cada local;
• monitoramento pós-soltura para avaliar se os resultados pretendidos estão sendo de fato atingidos.

Tatiane Rech – Por que a soltura nem sempre é a melhor solução para o indivíduo, a conservação da espécie e a preservação da biodiversidade?
Marcelo Rheingantz – Para o indivíduo, a soltura sem o planejamento adequado pode significar baixa chance de sobrevivência devido à falta de habilidades necessárias para viver na natureza. Também pode não haver recursos suficientes para ele no local de liberação e ele acabar indo a óbito ou dispersando da área-alvo. A liberação é um momento naturalmente estressante para o indivíduo, pois ele tem que começar a explorar a área e encontrar os recursos que precisa. A soltura pode ser feita em um local que não é adequado para o animal e ele não conseguir obter os recursos necessários. Por fim, o animal pode não estar em condições clínicas e sanitárias adequadas.

Para a espécie, uma soltura mal planejada pode não contribuir para a restauração da população ou da função ecossistêmica pretendida. A morte dos indivíduos pode ainda significar a perda de unidades filogenéticas únicas ou introduzir problemas genéticos ou patógenos.

Para a biodiversidade, a ausência de monitoramento e a introdução de indivíduos em locais inadequados pode causar desequilíbrios ecológicos e prejudicar outras espécies e todo a dinâmica ecossistêmica. A soltura pode ser ineficaz para restaurar interações e estabelecer populações se o hábitat não for adequado ou se as ameaças originais, como a caça ou a destruição do hábitat, não tiverem sido mitigadas.

Observação: as opiniões, informações e dados divulgados
no artigo são de responsabilidade exclusiva de seu(s) autor(es).