Por Larissa Oliveira Gonçalves
Bióloga, mestre e doutora em Ecologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. É pesquisadora colaborada do Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias da mesma universidade (NERF-UFRGS)
transportes@faunanews.com.br
Durante a I Conferência sobre Impactos dos Transportes na Fauna, organizada pela Cetesb (Agência ambiental do governo paulista) e REET Brasil, além de mesas redondas e discussões já relatados aqui no Fauna News, aconteceram também diversos cursos de capacitação gratuitos sobre os diferentes modais de transporte.
Em um desses cursos, tive o prazer de participar como ministrante, juntamente com outras pesquisadoras vinculadas ao Núcleo de Ecologia de Rodovia e Ferrovias da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (NERF-UFRGS). O objetivo foi apresentar as abordagens analíticas para avaliação de fatalidade de fauna em empreendimentos viários, utilizando como base um software amplamente utilizado por consultores e analistas ambientais no Brasil: o Siriema (road mortality software). Este programa foi criado para tornar mais amigável a execução de análises de estimativas de atropelamento de fauna e de identificação de padrões de agregações de atropelamentos, os famosos hotspots.
Muito mais que aprender a apertar botões em um programa, o curso também apresentou o embasamento teórico de duas das principais perguntas que fazemos quando lidamos com o impacto de atropelamento de fauna: 1) quantos animais morrem em uma via? e 2) onde os animais mais morrem na via?
Já que o curso teve inscrições limitadas e lotação completa, julguei que aqui poderia ser um bom espaço para trazer as principais mensagens que foram discutidas e que deveriam ser sempre levadas em consideração quando pretendemos responder essas questões sobre fauna atropelada.
Para a pergunta “quantos animais morrem em uma via?”, alguns pontos são cruciais:
– realizar a correção dos erros amostrais na estimativa de quantos animais morrem na via monitorada;
– os erros amostrais são a eficiência do observador e a persistência das carcaças;
– essa correção torna as taxas estimadas de fatalidade comparáveis com as taxas de outros locais e outros momentos – lembrando que essas também precisam estar corrigidas.
– jamais comparar as taxas observadas de fatalidade de fauna entre estradas ou entre momentos diferentes;
– a eficiência do observador e a persistência das carcaças devem ser estimadas sempre que variarem as condições relacionadas a elas;
– considerar a eficiência do observador e a persistência das carcaças é fundamental para uma estimativa mais acurada de quantos animais morrem e para poder comparar a mortalidade em diferentes locais ou em diferentes momentos.
Para a segunda pergunta, “onde os animais mais morrem em uma via?”, existem diferentes abordagens para respondê-la. Aqui focamos nas que são possíveis por meio do software Siriema e abaixo listo as principais mensagens para a identificação dos locais de agregação de atropelamento:
– sempre realizar primariamente a análise K de Ripley para verificar em quais escalas existem agregações de fatalidades;
– não realizar análise de Hotspot se não houver agregação em alguma escala;
– o raio da análise de Hotspot tem que estar dentro das escalas de agregação identificadas na análise K de Ripley;
– a definição das escalas de análise deve ser pensada a partir do objetivo, do grupo-alvo da análise e da área de atuação das medidas de mitigação.
Cursos como o ministrado na conferência possibilitam, além da capacitação profissional, muita troca de experiências entre os participantes, ainda mais em um evento multisetorial em que diferentes olhares estão presentes. Para os interessados em explorar um pouco mais dessas análises e mensagens, convido-os a utilizar o programa e consultar o seu manual. Infelizmente, a página do software está fora do ar e não consigo indicá-la aqui, mas deixo o link para o manual e fico à disposição para entrarem em contato caso queiram acessar o programa.
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