Educação ambiental em jardins botânicos e áreas naturais urbanas

A concentração humana em centros urbanos torna escasso o contato com a natureza. Enquanto a vida se dava nos meios rurais, a ligação com as estações do ano, com a terra, os córregos, as florestas, a flora e a fauna ocorria naturalmente. O convívio era diário e trazia conhecimentos e vínculos de afeto com elementos variados da natureza.

Já nas cidades, a vivência com o meio natural precisa ser provocada. Mas, muitas cidades contam com jardins botânicos ou áreas naturais como praças ou parques, que são propícios para se estimular atividades de educação ambiental. Representam oportunidades de se observar, sentir, conhecer e apreciar o mundo natural do qual fazemos parte.

No início de nosso processo evolutivo, vivíamos em constante contato com a natureza; a vida dependia de instintos apurados que nos permitiam enfrentar as adversidades constantes. Coragem e força eram qualidades necessárias para que pudéssemos sobreviver, e os perigos do mundo natural eram temidos.

Com o tempo, a humanidade desenvolveu artifícios e tecnologias que tornam a vida mais fácil e confortável. A evolução tem se baseado, no entanto, no predomínio da razão sobre o sensível, o que resultou em diversas vantagens e conquistas, mas também severos problemas socioambientais que agora se intensificam com as mudanças climáticas.

O modelo de desenvolvimento predominante, no qual a racionalidade é priorizada, tende a favorecer resultados de curto prazo sem que se prevejam as consequências que derivam de cada ação. Dentre as consequências observadas estão grandes desigualdades sociais e exploração indiscriminada da natureza, vista apenas como fonte de recursos a serem explorados para suprir necessidades cada vez maiores. Há uma volúpia generalizada por conquistas materiais e um distanciamento do sensível e intuitivo, o que contribui para nos afastarmos de nossa ligação com o todo e com o mundo natural.

Nas últimas décadas, os desafios têm se tornado mais aparentes e com senso de urgência de se encontrar opções que transformem a vida competitiva e aspirações gananciosas em alternativas que levem em conta o valor da vida. Ameaças com contaminações, poluições e perdas de diversidade, tanto cultural quanto ambiental, ocorrem cada vez com mais frequência por toda parte, nos levando a buscar caminhos que visem a integridade do ser humano, do ambiente e das relações que beneficiem a proteção da riqueza socioambiental ainda existente no planeta.

Neste momento há indícios de retrocessos lastimáveis, mas aqui vale defender o ideal. A possibilidade de mudança está nas mãos da humanidade e de sua vontade de se importar com a vida dos menos favorecidos. Nessa classificação estão pessoas com poucas oportunidades de conquistarem condições melhores e espécies da flora e da fauna que cada vez mais enfrentam riscos de extinção.

Valorização da riqueza da natureza

Em países tropicais como o Brasil, qualquer pedaço de área natural como praças e jardins botânicos apresentam rica biodiversidade, não só de plantas (foco principal dos jardins botânicos), mas também de animais. Assim, visitantes têm a chance de observar nos diferentes tons das folhagens uma gama de insetos, anfíbios, aves e, por vezes, mamíferos. A surpresa de avistamentos de qualquer animal por si só é muitas vezes marcante. Mas, observar detalhes é um exercício a ser estimulado, como uma corredeira de formigas, algumas carregando pedaços de folhas imensas em comparação com seus tamanhos, o que é capaz de trazer fascínio e vontade de saber mais. E quando se consegue avistar um miquinho gritando, ou ainda melhor, uma família de micos, a experiência pode ficar na memória para sempre. Além dos sons de primatas, importante prestar atenção ao canto de pássaros ou o coaxar de sapos.

O fato é que a maioria dos amantes de natureza foram estimulados a apreciar detalhes sutis quando ainda pequenos. Daí a importância de se expor crianças ao mundo natural. Precisamos formar conservacionistas dispostos a proteger a biodiversidade existente no planeta! E no Brasil, essa tarefa deveria ser prioridade em todo o território nacional.

Uma sugestão que pode ser interessante é ler o livro ou assistir o filme O Jardim Secreto, obra clássica de Frances Hodgson Burnett. A história ilustra um processo de transmutação nas crianças expostas às belezas de um jardim observado minuciosamente com a chagada da primavera inglesa. Transformações mágicas ocorrem tanto nas flores quanto nessas crianças e posteriormente nos adultos, personagens do livro/filme. A mudança inesperada de um ambiente doente e sombrio em encantamentos, mistérios e esperança é observado por meio de um contato íntimo com o “jardim secreto”.

Os jardins botânicos podem ser palco de magias semelhantes, se forem repassados conhecimentos e oferecidas oportunidades de o visitante se sensibilizar com o mundo natural. Podem ser palco para um aprendizado diferenciado, com potencial de incitar consciência e interesse em questões que levem a questionamentos e estímulos a posturas éticas.

Um bom exemplo é o Jardim Botânico do Rio de Janeiro que frequentei continuamente quando meus filhos eram pequenos. Além de belo é imponente por ter um passado histórico datado da época do Brasil Colônia. A diversidade da flora atrai avifauna diversificada, além de anfíbios e mamíferos. Dificilmente quem o visita deixa de sentir encantamento pelas belezas ali encontradas, o que pode fortalecer um comprometimento com a proteção das riquezas naturais ainda existentes em nosso país.

Outra leitura aconselhável é um texto de Rubem Alves em seu livro Conversas com quem gosta de ensinar, em que descreve o professor e o educador, os comparando a uma plantação de monocultura de eucalipto com um pé de jequitibá. O primeiro prefere que todos sejam iguais dentro de uma realidade previsível, enquanto o segundo atrai vidas múltiplas em suas raízes, troncos, galhos e folhas. No caso, referia-se a uma crítica à educação tradicional e a apologia a abordagens inclusivas, com a valorização da diversidade seja de gente ou que pode se estender à natureza em geral.

Os jardins, sejam quais forem, precisam sair da obscuridade, deixando de ser secretos, para os tornarem pontos de visitação constante. Essa é uma estratégia com potencial de ajudar a despertar nas pessoas a vontade de se tornarem guardiãs do patrimônio natural que existe no planeta. É preciso estimular o amor por meio de um contato direto com as belezas e a diversidade encontradas na natureza.  Aumentar o conhecimento e sensibilizar as pessoas pode ser um caminho de magia que religue o ser humano com o meio natural do qual é intrinsecamente ligado.

Algumas ideias do ‘como fazer’ estão mencionadas a seguir, mas as vivências devem ser priorizadas e exploradas de acordo com o imaginário do visitante.

Preparação:

• Identifique áreas naturais próximas e de fácil acesso.
• Leve lupas, papel de desenho com prancheta, lápis de cor ou mesmo canetas e cola.
• Se for possível, tente identificar as espécies que poderão ser avistadas – existem programas de consulta disponíveis para celulares.

Atividades possíveis e de fácil execução:

• Crie histórias com seu público sobre o que estão vendo e sugira que registrem o que mais lhes chamou atenção de diversas maneiras – desenhos, colagens, textos escritos.
• Peça a todos que fechem os olhos e ouçam os sons da natureza. Incentive que compartilhem o que mais lhes chamou atenção.
• Tente identificar diferentes espécies que estão no local e comente sobre a diversidade encontrada.
• Sugira que representem algum animal que viram ou que gostariam de ter visto. Explique o endemismo e como ecossistemas e biomas acolhem diferentes espécies.

Essas são apenas ideias simples do que pode ser feito em áreas naturais e que visam inspirar guias e famílias de visitantes.

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