Graduada em Ciências Biológicas e mestre em Ecologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Atualmente, é doutoranda pela mesma instituição e está vinculada ao Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (Nerf).
Seus interesses estão voltados para os impactos antrópicos na fauna silvestre. Atua na área da Ecologia de Rodovias para compreender os impactos direitos e indiretos, bem como explorar alternativas de mitigação.
Sabemos que as estradas fragmentam áreas de vegetação nativa, reduzindo a conectividade e dificultando o movimento de muitos animais. É fácil visualizar esse impacto em espécies que se deslocam pelo chão, pois, assim como nós, precisam estar atentas aos veículos ao atravessar a estrada. Em contrapartida, pode parecer que animais que voam têm menos dificuldades para cruzar a via, já que podem passar por cima dos veículos. No entanto, a realidade não é tão simples: muitas espécies que voam também morrem por colisão com veículos, em proporções comparáveis aos animais terrestres.
Os morcegos são um exemplo de grupo de espécies impactado por essas colisões (já abordamos o assunto em maio de 2021 e setembro de 2022). Frequentemente, esses animais não são detectados nos monitoramentos de fauna atropelada, pois, além de serem pequenos e escuros, o que facilita sua camuflagem no ambiente, também são pequenos e leves, podendo ser facilmente removidos da área do monitoramento (estrada e acostamentos). Isso dificulta compreender como as estradas podem estar impactando populações da fauna do entorno delas.
Espera-se que regiões com hábitat de alta qualidade apresentem maior mortalidade de morcegos em rodovias. No entanto, ainda há muitas dúvidas sobre como as características da paisagem local influenciam o comportamento desses animais e porque aumentam o risco de colisão. Por exemplo, como a distância entre as árvores ou a densidade da vegetação nativa influenciam a densidade de morcegos e a atividade/deslocamento deles. Além disso, não se sabe até que ponto o comportamento de voo dos morcegos afeta as colisões, ou seja, se eles voam na altura dos veículos, ao lado ou acima deles.
Para compreender melhor essa relação entre morcegos e estradas, um estudo realizado na região do Mediterrâneo registrou a atividade desses animais e caracterizou o comportamento de voo deles por meio de rastreamento acústico. Os pesquisadores também coletaram informações sobre a vegetação ao redor da estrada (altura, distância, densidade e orientação da vegetação), bem como características da via (largura e volume de tráfego).
As análises mostraram que o aumento da distância até as árvores e a redução na altura da vegetação diminuem a densidade de morcegos nas estradas. Como esperado, áreas florestadas foram os locais onde os morcegos voaram com maior frequência na zona de risco de colisão. No entanto, esse risco foi mais alto tanto em florestas quanto em fileiras de árvores perpendiculares à estrada, variando conforme a espécie. Além disso, os morcegos geralmente seguiram o eixo da estrada, independentemente da vegetação ao redor, e, de maneira geral, o fluxo de veículos não influenciou na densidade ou no deslocamento.
Embora esse estudo tenha sido conduzido em uma região específica e com poucas espécies, já traz informações importantes sobre como os morcegos se movimentam em relação à paisagem e à estrada. No Brasil, temos uma diversidade muito maior de espécies, com comportamentos variados, o que reforça a necessidade de pesquisas para entender como nossas espécies interagem com as rodovias. Por serem animais voadores, a implementação de medidas de mitigação é ainda mais desafiadora, tornando essencial o conhecimento prévio sobre como os morcegos respondem à presença de estradas e às alterações na vegetação nativa ao seu redor.
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Graduada em Ciências Biológicas e mestre em Ecologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Atualmente, é doutoranda pela mesma instituição e está vinculada ao Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (Nerf). Seus interesses estão voltados para os impactos antrópicos na fauna silvestre. Atua na área da Ecologia de Rodovias para compreender […]
