Por Ingridi Camboim Franceschi
Graduada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde é mestranda, sendo integrante do Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF)
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Já mencionei em outro artigo, os impactos das rodovias nos morcegos, como as colisões com os veículos e a perda de conectividade e de habitat. Desta vez, vou detalhar alguns exemplos de mitigação à perda de conectividade que vêm sendo estudados para esse grupo de animais.
Pesquisadores na Alemanha elaboraram um estudo testando o uso de uma ponte vegetada – por cima da rodovia – e de uma passagem inferior – por baixo da rodovia – por morcegos, para avaliar se essas estruturas são efetivas para mitigar a perda de conectividade. Para isso, eles compararam o uso das estruturas com o uso de áreas próximas a essas passagens.
Os autores encontraram que tanto a ponte vegetada quanto a passagem inferior são muito usadas pelos morcegos. Porém, também houve alta atividade desses animais nas áreas próximas, o que eles atribuem ao fato de diferentes espécies apresentarem variadas características, podendo preferir áreas abertas sem ou com pouca vegetação, ou serem influenciados pelas luzes próximas à estrada. Outra questão é que essas estruturas podem não estar em pontos de travessia de algumas espécies, o que também resultaria em uma menor atividade.
Por fim, os pesquisadores concluíram que essas passagens são alternativas de mitigação para conectividade, uma vez que apresentaram alto nível de atividade de morcegos. Ainda assim, é necessário que haja mais estudos testando, no longo prazo, o uso dessas passagens e também as espécies com diferentes habilidades de voo e hábitos alimentares para avaliar quais estruturas são mais adequadas para esses animais.
Morcegos na França
Em outro estudo, desta vez elaborado na França, os autores avaliaram o uso de uma passagem aérea similar a uma ponte/pórtico. Eles compararam a utilização da estrutura pelos morcegos antes e depois da instalação da ponte e também com uma área controle, sem a estrutura – um desenho amostral bastante adequado para avaliar efetividade de mitigação.
Os pesquisadores encontraram um aumento na travessia de morcegos onde a estrutura aérea foi instalada quando comparado com o mesmo local antes da instalação. Ainda: na área controle não houve diferença entre os dois períodos, antes e depois da implementação da estrutura, indicando que o aumento nas travessias pode ter sido ocasionado pela presença da estrutura. Logo, essa estrutura é uma boa alternativa de mitigação à perda de conectividade para morcegos.
Os autores sugerem que estudos futuros avaliem um maior número de estruturas e que considerem especificamente a altura de voo dos morcegos antes e depois da instalação de estruturas. Eles também comentam que a decisão de onde instalar as estruturas de mitigação para esses animais ainda é um desafio, pois é importante que elas estejam na rota de deslocamento. Contudo, não é tão simples saber a rota de deslocamento dos morcegos, sendo assim, uma alternativa é utilizar a conectividade da paisagem para implementação das estruturas.
Redução de atropelamentos
Os estudos demonstraram que o uso dessas diferentes passagens por morcegos podem ser boas alternativas para mitigação, permitindo a conectividade. Contudo, um passo importante seria avaliar também a efetividade dessas passagens em reduzir as fatalidades de indivíduos. É importante que os estudos de efetividade avaliem antes e depois da instalação das estruturas, como foi elaborado na pesquisa realizada na França, pois assim podemos realmente afirmar que a implementação de tal medida aumentou a conectividade e/ou reduziu as colisões com veículos.
Um ponto importante antes da instalação das estruturas é avaliar onde construí-las, de forma que a elas atendam a demanda, seja de aumentar a conectividade seja de reduzir as fatalidades. Também é importante que os estudos sigam testando diferentes tipos de estruturas e avaliem adaptações necessárias para cada espécie conforme suas características para que, assim, possamos implementar medidas efetivas conforme o objetivo.
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