Enfrentar separadamente a crise climática global e as crises de biodiversidade é, na melhor das hipóteses, ineficaz, e, na pior, pode aprofundar a crise do clima, já que a perda de ecossistemas diminui a capacidade do planeta de capturar carbono. É o que afirma estudo de pesquisadores da Zoological Society of London (ZSL) e da Universidade de Brasília (UnB) publicado no Journal of Applied Ecology em 22 de setembro.
No artigo, os pesquisadores enfatizam a necessidade de uma abordagem integrada para lidar com os dois desafios globais e, assim, garantir soluções de baixo custo e risco. Eles identificam cinco áreas da pesquisa de ecologia que podem ajudar nestes desafios.
Algumas soluções propostas incluem desenvolver uma abordagem amplamente aceita para avaliar os benefícios que os projetos voltados para a mitigação das mudanças climáticas trazem para a biodiversidade; métodos de monitoramento de ecossistemas que estão mudando sua distribuição ou enfrentando colapso devido aos impactos das mudanças climáticas; e desenvolver maneiras de prever os impactos das mudanças climáticas sobre a eficácia das Soluções Baseadas na Natureza, como a restauração de ecossistemas.
Para Mercedes Bustamante (UnB), co-autora do estudo, a integração das agendas de mitigação e adaptação às mudanças climáticas e de conservação da biodiversidade é crítica, principalmente, para países do sul global, como o Brasil. “Esses países abrigam uma fração significativa da biodiversidade global e dos estoques de carbono e são, ao mesmo tempo, fortemente dependentes dos recursos naturais”, comenta. Com a integração, novas oportunidades de desenvolvimento com base na sustentabilidade podem ser geradas, segundo acredita a pesquisadora.
Embora a atenção esteja sobre a crise climática, a biodiversidade também está diminuindo em todo o mundo a taxas sem precedentes. O Índice Planeta Vivo de 2020 registrou um declínio de 68% da abundância média da população de espécies, desde 1970. Ao corroer os meios de subsistência de populações, a perda de biodiversidade tem impacto sobre a segurança alimentar, saúde e qualidade de vida de todo o mundo.
Publicado antes da Conferência do Clima, a COP 26, que acontece em novembro, o artigo argumenta que são necessárias grandes mudanças sistêmicas para melhorar drasticamente as chances da humanidade de lidar com as crises da biodiversidade e do clima.
“Não se pode continuar a gerir de forma independente as paisagens para a conservação da biodiversidade ou mitigação e adaptação às mudanças climáticas na esperança de que um beneficie automaticamente o outro”, comenta a pesquisadora Nathalie Pettorelli (ZSL), que liderou o estudo. “Precisamos urgentemente melhorar a integração científica e política das agendas da biodiversidade e mudança climática para que situações onde todos ganhem possam ser identificadas de forma mais rápida e ágil”.