Composição e fotografia de vida selvagem: dicas para valorizar os animais

Olá! Seja bem-vindo(a). Depois de discutirmos um pouco sobre o uso das cores semana passada, vamos tratar de um dos meus assuntos favoritos na fotografia: a composição. Essa é uma etapa fundamental do processo criativo de uma imagem, responsável por tentar colocar o assunto principal em destaque e em equilíbrio com outros elementos.

A composição é muito mais do que conseguir focar com perfeição seu tema principal. Resumidamente, é como o artista “monta” a sua foto, escolhendo onde e de que maneira ele posicionará os diferentes objetos que aparecem no frame. Esse processo tem início desde antes do clique, na hora do enquadramento, e se estende até a pós-produção, na qual pequenos detalhes podem ser corrigidos e outras decisões mais criativas podem ser tomadas.

Estudar o básico da composição fotográfica e aplicá-la constantemente costuma ser o primeiro grande passo para qualquer fotógrafo de vida selvagem começar a ver um abismo de diferença na qualidade das suas fotos. Pessoalmente, acredito que uma composição bem feita é o que diferencia um mero registro de um animal de uma verdadeira fotografia, uma vez que ela evidencia o planejamento e alguma intenção de quem está operando a câmera.

Decidi apresentar as dicas de hoje em forma de “escadinha”. Ou seja, vou começar pelas mais básicas para depois subirmos os degraus e entendermos técnicas mais avançadas de composição.

Centralização e espaço de respiro

Quando vamos tirar uma foto com nosso celular, é normal sempre colocarmos o que estamos vendo no centro da imagem. Isso pode ser refletido em pessoas que ganham sua primeira câmera (me incluo nisso) e continuam centralizando o assunto com o novo equipamento em todas as imagens. Porém, sempre centralizar o animal no frame acaba sendo repetitivo e enjoativo, deixando todas suas fotos parecidas e sem criatividade – novamente, mais parecidas com um registro do que com uma fotografia.

A solução para esse problema é extremamente simples: basta deslocar o animal do centro um pouco para os lados, criando um “espaço de respiro” (ou espaço negativo). Isto é, um espaço literalmente vazio que serve para equilibrar a atenção que o assunto está recebendo. Tente sempre deixá-lo na direção em que o animal está virado, criando uma sensação de que ele está olhando para alguma coisa ou se movimentando com algum destino. Caso o contrário, vai dar a sensação de que o bicho está olhando para a borda da foto que atua como uma parede que o sufoca – daí o nome “espaço de respiro”.

É claro que não é proibido centralizar o assunto em uma foto ou outra. Particularmente, gosto de usar essa técnica em imagens mais geométricas e simétricas ou para animais imponentes e poderosos, que merecem ser o centro das atenções.

Regra dos terços

Para facilitar essa descentralização, existem algumas “regras” de composição (aspas, pois nada é uma regra obrigada a ser seguida) que auxiliam no posicionamento dos elementos através de linhas e pontos. A principal delas a regra dos terços. Você já deve ter visto em seu celular ou no Instagram uma grade de nove quadrados ou retângulos que ficam sobrepostos a sua imagem antes de postá-la. Essa é a regra dos terços.

Nela, as linhas servem para direcionar o olhar, separar planos e endireitar o horizonte, enquanto as intersecções entre elas são os pontos de mais interesse da foto. Involuntariamente, quando encontramos alguém ou algum animal, o primeiro contato visual que tentamos realizar é com os olhos deles. Logo, em retratos é interessante tentar colocar os olhos do seu assunto próximos de um dos quatro pontos da regra dos terços.

Observação: os pontos não são exclusivos para os olhos, são guias para posicionar o elemento mais interessante.

Existem várias outras regras de composição (como a proporção áurea), mas a maioria delas geram resultados muito parecidos. Por isso, a dos terços é a mais comum e fácil de ser utilizada. Você também pode fazer uso de linhas diagonais para dar direção, além das horizontais e verticais dessa regra. Imaginem, como exemplo, aquelas fotos de estradas que parecem nunca ter fim.

Foco

O foco (e a falta dele) é a configuração que vai definir o ponto de maior interesse da sua foto. Tente sempre deixar seu assunto o mais nítido possível e desfocar tudo o que for uma distração – exceto elementos coadjuvantes. Fundos mais desfocados (o chamado efeito bokeh) criam uma tridimensionalidade muito interessante aos cenários registrados e, para retratos de animais, são quase indispensáveis. Para criá-los, basta fotografar com grandes aberturas do diafragma e tentar espaçar bem seu assunto do plano de fundo (quanto maior a distância entre os dois, maior o desfoque).

Ângulos

 Existem quatro tipos de ângulos na hora de tirar a foto que também ajudam a compor suas imagens:

• Plongée: do francês, significa “mergulho”. Nele, você tira a foto de cima para baixo em relação ao assunto. Na minha opinião, o mais raro e difícil de ser usado. Válido para tentar mostrar fragilidade, insignificância ou fotos similares às tiradas por drones.
• Contra-plongée: o exato oposto do plongée. Fotos tiradas de baixo para cima, muito eficientes para mostrar poder, tamanho, força etc. de animais grandes.

• Nível dos olhos: meu favorito. Já discutimos isso em outros artigos, mas relembro que, nesse tipo de ângulo, você consegue incluir o espectador no hábitat do animal, colocando-os no mesmo ponto de vista e gerando uma sensação de igualdade.
• Nível do horizonte: também é raro de ser utilizado, mas é bom para estabelecer as dimensões dos animais em relação a outros elementos da paisagem.

Direção e movimento

 Sim, fotos são diferentes dos vídeos por serem estáticas. Porém, fotos que conseguem dar a sensação de movimento costumam ser muito mais interessantes e capazes de contar histórias além do momento do clique, alimentando a imaginação de quem está vendo. Além das linhas-guia, existem outros fatores que podem dar direção e movimento às suas imagens, como a postura, o olhar e a própria ação dos animais, assim como outros elementos usados de forma criativa.

Cor, contraste e textura

Esses três itens são muito importantes na composição, uma vez que também exercem o papel de destacar ou ocultar diferentes elementos da imagem. Tratamos sobre as cores e contraste na semana passada, então pouparei vocês da repetição. Quanto às texturas, seu uso é bem similar. Basta não carregar demais e não misturar muitos padrões diferentes ao ponto de distrair o olhar do principal objetivo. Lembrem, o foco é uma ferramenta muito útil para manipular texturas, já que o desfoque costuma alisar as superfícies.

Com isso, concluo este artigo. Estudar composição e experimentar novas técnicas nas minhas fotos é uma das coisas que mais me interesso na fotografia. Quando abro o Lightroom, demoro infinitamente mais recortando e endireitando a imagem – até achar a composição ideal – do que propriamente a editando (às vezes, acabo editando duas ou até mais versões da mesma foto com composições diferentes).

Se você ainda não compartilhava do mesmo interesse, espero que este texto sirva de incentivo para você mergulhar nesse processo criativo. Semana que vem, voltarei com um tema bem mais leve, no qual vou falar sobre o que costumo levar a campo para fotografar animais (não se preocupe, será um pouco mais do que minha câmera, água e protetor solar…). Até lá!

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