A importância das cores na fotografia de vida selvagem

Olá! Espero que esteja tudo bem por aí. Como prometido no último artigo, vamos destrinchar um pouco o papel que as cores exercem em uma foto de vida selvagem, seja participando da estética, transmitindo sensações ou auxiliando a contar uma história. A cor na fotografia chega a ser quase tão importante quanto a luz. Quase, pois sem luz não há fotografia – e nem cor.

Segundo a Teoria das Cores, que estuda como elas são formadas, existem três cores primárias responsáveis por criarem todas as outras através de várias combinações: o vermelho, o amarelo e o azul (diferente do método de cores utilizado em monitores eletrônicos, o RGB, que trabalha com o vermelho, o verde e o azul). Essas combinações podem “interagir” entre si na fotografia e em outras artes, gerando cores análogas (entre tons parecidos) ou complementares (entre tons opostos, mas que “combinam”).

Resumidamente, conseguimos enxergar essas cores através de células “cone” dos nossos olhos, que identificam os tons depois que a luz reflete nos objetos e volta em nossa direção. Nas câmeras, os grandes encarregados de “enxergar” as cores são os sensores, enquanto as células cone deles seriam os megapixels, responsáveis pela sensibilidade do equipamento.

Depois de gravadas no sensor e reproduzidas em uma tela ou impressas, as cores são capazes de sugestionar nosso cérebro a ter diferentes sensações, o que é explicado pela Psicologia das Cores. Basicamente, cores frias (como azul e verde) são mais eficientes em transmitir paz, esperança, solidão, tristeza etc., enquanto cores quentes (como amarelo e vermelho) costumam simbolizar alegria, amor, perigo, fome etc. É importante lembrar que essas atribuições são muito genéricas, já que o significado das cores pode ser diretamente influenciado por muitos aspectos sociais, culturais e até pessoais.

Agora, sabendo de tudo isso, vamos ver como conseguimos aplicar um pouco desse conhecimento na fotografia de vida selvagem, que não costuma ser muito filosófica ou subjetiva para que as cores carreguem tanto significado assim. Afinal, os fotógrafos dessa área não têm quase nenhum controle sobre as tonalidades que aparecerão no frame, tendo em vista que é a natureza quem manda nisso. Porém, se você prestar atenção no entorno e usar a criatividade para aproveitar ao máximo o uso das cores que estão ao seu alcance, garanto que os resultados vão ter mais destaque.

Retomando algo que comentei brevemente no meu artigo sobre fotografia de aves, vou começar pelo papel das cores no plano de fundo e no contraste com o assunto da foto. No caso de animais coloridos ou vibrantes, é interessante procurar por planos de fundo mais neutros, como cinza, marrom e até tons de verde mais desbotados da vegetação. Enquanto isso, para animais com paletas mais discretas, fica mais fácil contrastá-los com fundos mais coloridos. Mas lembre que nem tudo é uma regra. É possível usar fundos coloridos com animais coloridos (através das cores complementares) assim como mesclar propositalmente um animal com o fundo, para mostrar sua habilidade de camuflagem, por exemplo. O importante é a foto continuar tendo propósito e o assunto não se perder em meio às distrações.

Aproveite as características naturais dos animais e do ambiente e use-as a seu favor. Se uma espécie tiver uma característica única ou marcante relacionada a cor, tente valorizá-la e colocá-la em harmonia com os outros elementos da composição.

Temperatura de cor da luz

Outro fato muito curioso é que a temperatura de cor da luz é um dos principais fatores que definem a tonalidade da sua imagem. Sim, é isso mesmo que você leu: a luz tem uma temperatura que varia ao longo do dia, medida na escala Kelvin (°K). Durante o amanhecer e entardecer, a luz está começando a esquentar e esfriar, respectivamente, ficando em torno dos 3.000 °K, o que deixa as imagens mais alaranjadas (a famosa golden hour). Ao meio-dia e com céu aberto, a temperatura passa dos 5.000°K e atinge seu ponto mais alto, transformando-se em luz branca, responsável por maiores contrastes e vibrações nas cores (por outro lado, há contrastes muito fortes nos realces e sombras, que podem atrapalhar). Ao anoitecer, as cores que prevalecem são as frias, próximas do azul. Curiosidade extra: isso é extremamente importante para dentistas que fotografam seus pacientes, já que qualquer alteração na temperatura da luz pode amarelar os dentes e alterar os diagnósticos.

Porém, caso você não queira uma “aura” alaranjada ou azulada em sua foto, é possível corrigir isso na própria câmera ou em softwares de edição (que eu recomendo) através do balanço de brancos. Ao mesmo tempo, essa ferramenta pode ser usada criativamente para deixar imagens mais impactantes e imersivas, formando uma atmosfera fria e azulada em fotos de animais na neve, por exemplo.

Outra maneira de prender a atenção do público é fazendo fotos mais monocromáticas, que geralmente agradam nossos olhos. Nesse caso, volto a lembrar que devemos ter bastante cuidado para o assunto não sumir ou perder a graça. Também evite realçar demais a saturação e a vibração nesse tipo de foto – isso pode deixá-la “enjoativa”.

Uso de preto e branco na fotografia de vida selvagem

O preto e branco é uma outra alternativa que pode se destacar, se usada corretamente. Não tenho muita experiência com esse tipo de fotografia, mas as vezes em que arrisquei foram em fotos que eram uma verdadeira “salada de cores”, mas com composições boas. Para não ter que descartar a imagem, é legal usar essa técnica para remover a cor, que nesses casos é mais uma distração do que uma adição.

Para finalizar, vou deixar algumas recomendações de fotógrafos que utilizam com maestria a cor (ou a falta dela) em suas imagens:

• Thomas Peschak é um fotógrafo alemão e marinho (principalmente) que consegue captar o espectro frio das cores com perfeição, tendo em vista que, dependendo da profundidade que você está embaixo d’água, tons mais quentes não chegam a ser visíveis.
• Steve McCurry, apesar de não ser fotógrafo de natureza, é talvez uma das melhores referências do mundo em como usar cores em composições. Portanto é extremamente válido estudar e se inspirar no seu trabalho.
• Tim Laman tem como principal assunto de suas fotos as aves, na maioria das vezes bem coloridas. Seus registros são ótimos exemplos de como contrastar e complementar diferentes tonalidades sem exagerar.
• E claro, não podemos esquecer de Sebastião Salgado, que provou que as cores não são nada obrigatórias para contar histórias extremamente impactantes, seja de pessoas ou de animais.

Com isso, chegamos ao final deste artigo. Harmonizar cores nas fotos (tanto em campo quanto na pós-produção) não é uma tarefa fácil e exige muito tempo de estudo e muita prática – algo que eu mesmo ainda tenho que melhorar bastante. Espero que este texto incentive você a tentar novas combinações e a enxergar as paletas de cores naturais com novos olhares. Agradeço a leitura e no próximo artigo continuaremos com um tema mais artístico da fotografia, abordando uma das etapas mais importantes do processo criativo: a composição.

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