Colisão com embarcação é provável causa da morte de filhote de baleia em SC

Colisão com embarcação foi a causa provável da morte do filhote de baleia-franca (Eubalaena australis) encontrado encalhado na tarde de domingo (13 de agosto), na praia da Joaquina, em Florianópolis (SC). A conclusão veio a partir da necropsia realizada por médicos veterinários que identificaram lesões na cabeça do animal. O Fauna News noticiou o encontro do animal.

A coleta de material para a realização da necropsia foi realizada na segunda-feira pela equipe da ONG R3 Animal, responsável pelo monitoramento do litoral da ilha de Santa Catarina para a Petrobras (condicionante exigida no processo de licenciamento da exploração de petróleo na bacia de Santos). Após o procedimento, o filhote,que tinha pouco mais de cinco metros, foi enterrado na praia.

Segundo o laudo da necropsia, a baleia apresentava lesão principalmente na região da cabeça, provavelmente provocada pelo impacto com uma embarcação de grande porte. A análise desenvolvida descreveu um “extenso hematoma na cabeça, dorso e região lateral, além da musculatura e tecido subcutâneo”, afirma a médica veterinária da ONG R3 Animal, Marzia Antonelli.

“Nós encontramos lesões na cabeça e no dorso do animal, hematomas que muito provavelmente foram causados por colisão com embarcação de grande porte”, destaca a veterinária e presidente da R3 Animal, Cristiane Kolesnikovas.

Migração e turismo de observação de baleias

As baleias-franca migram da Antártica para o sul da América do Sul para acasalar, parir e amamentar seus filhotes. Na costa de Santa Catarina a presença delas ocorre de julho a novembro. A chegada de animais da espécie é um atrativo para o turismo na região, onde empresas organizam passeios para avistá-los.

O turismo de observação de baleias com embarcações chegou a ser objeto de ação judicial a partir de 2012. Na época, a ONG Sea Shepherd ajuizou uma ação civil pública contra o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) para forçá-lo a adotar medidas para a proteção das baleias- francas mediante fiscalização das empresas que exploram o turismo com barcos.

O ICMBio apresentou um plano de controle e, em 2019, a Justiça Federal permitiu o turismo com embarcações na APA. As normas impedem, por exemplo, a aproximação a menos de 100 metros das baleias com o motor engrenado, perseguir os animais e atrapalhar no curso de deslocamento deles.

No caso do filhote de baleia-franca, encontrado morto no último domingo (13), o ambientalista e integrante do Instituto Baleia Jubarte, José Truda Palazzo Jr., acredita ser improvável que o impacto contra a baleia tenha sido provocado por uma embarcação de turismo, uma vez que as excursões para a observação do mamífero marinho têm ocorrido com veículos pequenos. O especialista levanta a possibilidade de o choque ter sido causado pela existência de um porto comercial dentro da APA, o que pode ter gerado uma colisão com um navio, assim como já foi identificado em casos anteriores.

Truda reitera que o comitê científico da Comissão Internacional da Baleia colocou em seu relatório de 2021, após 50 anos de pesquisa sobre o turismo de observação de baleias, que não foi observado impacto significativo sobre as espécies de populações alvo do turismo. O documento aponta a legalidade da prática, porém chega a discorrer que em determinados lugares do mundo foram identificados casos de caça irregular dos cetáceos.

Na região, há movimentos de ambientalistas contrários à prática do turismo de observação de baleias com uso de embarcações. É o caso da Associação Catarinense de Proteção aos Animais (Acapra), que mantém a campanha Berçário Livre e defende a observação a partir do continente.

Recomendações para evitar acidentes com baleias

Para que o turismo de observação de baleias e as rotas marinhas de comércio sejam realizadas é necessário que algumas regras sejam cumpridas. O diretor de pesquisas do Instituto Baleia Jubarte, Milton Marcondes, salienta as recomendações específicas desenvolvidas pela organização para os portos e rotas marítimas a fim de minimizar os danos à fauna marinha.

Marcondes aponta que, com o crescimento populacional das baleias, como ocorre com as jubartes que seguem para o Nordeste também no segundo semestre, “há mais casos envolvendo problemas com a atividade humana”, como a captura de cetáceos em redes de pesca e atropelamentos, que em geral são subnotificados.

Uma das orientações para evitar casos como esses é que as rotas das embarcações percorram apenas por trajetos em que há menor densidade de baleias. Outra necessidade é o treinamento da população para detectar a presença dos cetáceos, entender o porquê do animal estar na região e como proceder em caso de colisões. Também é aconselhado a redução da velocidade dos barcos para que as espécies marinhas tenham tempo de notar a presença humana e se afastar do local.

Além dessas recomendações, Marcondes comenta que durante a noite é mais difícil perceber a presença de baleias. Por esse motivo, o Instituto Baleia Jubarte começou a desenvolver em parceria com a empresa Veracel Celulose e com a companhia de navegação Norsul “uma câmera térmica, que ainda está em estudo, para a detecção de baleias à noite. Esse aparelho ficaria ligado no setor de radar da embarcação, podendo ser programado para soar um alarme quando identificar um objeto na rota da embarcação”, aponta o diretor de pesquisas.