
Por Dimas Marques
Editor-chefe
dimasmarques@faunanews.com.br
“O habitat da ave choquinha-de-alagoas (Myrmotherula snowi), criticamente ameaçada de extinção, está sendo mapeado por pesquisadores da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), com o objetivo de subsidiar soluções para evitar sua extinção. De acordo com a pesquisa, atualmente devem existir apenas 50 choquinhas-de-alagoas no local.
Segundo os pesquisadores, o passarinho foi identificado em fragmento de Mata Atlântica na Estação Ecológica de Murici, no estado de Alagoas, em regiões com árvores mais altas. A área protegida, com aproximadamente dois mil hectares, é administrada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade.
“Nossas análises indicam que há mais chances de encontrar a choquinha-de-alagoas nas regiões da floresta que têm árvores mais altas”, conta Hermínio Vilela, mestrando em Zoologia pela UFPB e principal responsável pela pesquisa, que tem orientação do professor da UFPB Helder Farias.
(…) De acordo com o pesquisador, rápidas mudanças ambientais, como a remoção de imensas áreas florestais, inviabilizam a adaptação dos seres vivos. “Essas rápidas mudanças ambientais podem provocar desequilíbrios ecológicos que, inicialmente, podem causar a extinção de algumas espécies e, mais tardiamente, o desaparecimento em massa do restante dos animais”.
Conforme a pesquisa, a choquinha-de-alagoas foi descrita em 1985, a partir de expedições feitas por pesquisadores do Museu Nacional do Rio de Janeiro. É um passarinho que comumente vive no interior de florestas conservadas da Mata Atlântica de altitude, acima de 400 metros do nível do mar. Nessa época, a ave foi identificada em quatro locais diferentes: um no estado de Alagoas e três no de Pernambuco. Em mais ou menos 15 anos, desapareceu do território pernambucano.” – texto da matéria “Pesquisadores da UFPB alertam sobre possibilidade de extinção de ave”, publicada em 18 de julho de 2020 pelo portal G1
No Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção (2018), o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) afirma que “os principais fatores de pressão às espécies continentais estão relacionados às consequências de atividades agropecuárias, seja pela fragmentação e diminuição da qualidade do habitat em áreas em que a atividade está consolidada ou pelo contínuo processo de perda de habitat onde a atividade está em expansão.” Das 1.014 espécies continentais consideradas ameaçadas de extinção listadas pelo Ministério do Meio Ambiente, 58% delas estão em ambientes alterados pela agricultura e a pecuária.
O ICMBio ainda destaca que a expansão urbana é a segunda maior geradora de espécies da fauna ameaçadas de extinção, seguido de empreendimentos para geração de energia, como a construção de barragens e represas para hidrelétricas, parques eólicos e linhas de transmissão, e a poluição, seja industrial, urbana, ou agrícola com os agrotóxicos. Vale ressaltar que todos esses elementos causam perda ou deterioração de habitat.
A matéria do G1, além de destacar o problema da perda de habitat para a sobrevivência da choquinha-de-alagoas, afinal só existem 9% da cobertura original de Mata Atlântica no estado de Alagoas, salienta a importância das unidades de conservação de proteção integral. A pequena ave ainda sobrevive na Estação Ecológica de Murici.
Com certeza, se não houvesse áreas protegidas funcionando como reservatórios bem conservados dos biomas, muitas espécies de animais já não existiriam. Provavelmente seria o caso da choquinha-de-alagoas.
Que o conhecimento gerado pela pesquisa da UFPB consiga sensibilizar os gestores públicos para que iniciativas para a conservação da espécie seja efetivamente tomadas.