Por Dimas Marques
Editor-chefe
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Ontem, 2 de agosto, foi comemorado o dia do mico-leão-dourado, uma espécie de primata que existe somente no interior do estado do Rio de Janeiro e que quase foi extinta por causa da ação de traficantes de fauna e da perda de habitat. O animal se tornou símbolo da luta pela conservação do pouco que resta da Mata Atlântica. Afinal, para o mico sobreviver é necessária uma floresta saudável.
Mais do que uma floresta saudável, o mico-leão-dourado só deixará de ter sua existência ameaçada se tiver acesso à floresta. E, segundo a Associação Mico-Leão-Dourado, são necessários 25 mil hectares de mata atlântica protegida e conectada para a população de cerca de 2.500 animais da espécie – que, lá na década de 1970, foi de 200 indivíduos.
Para ajudar a conectar as manchas de mata atlântica existentes na região dos municípios de Rio Bonito, Silva Jardim e Casimiro de Abreu, um viaduto vegetado teve suas obras concluídas no dia 27 de julho. A obra permitirá que os pequenos micos atravessem a rodovia BR-101 sem risco de serem atropelados e reduzirá o chamado “efeito barreira” da estrada (que funciona como um bloqueio para o trânsito de animais).
“Neste domingo (2), Dia do Mico-Leão-Dourado, a espécie endêmica do Rio de Janeiro e que está ameaçada de extinção ganhou o primeiro viaduto vegetado do Brasil. A obra é um dos marcos da conservação da biodiversidade do país e vai contribuir para o futuro da espécie.
A obra, com orçamento de R$ 9 milhões, começou em 2018 no km 218 da BR-101, em Silva Jardim, no interior do Rio de Janeiro, e foi concluída na última segunda-feira (27) pela Arteris Fluminense, concessionária que administra a rodovia.
O viaduto recebeu o plantio de mudas nativas da Mata Atlântica. Toda a estrutura, que inclui uma cerca de condução de fauna, já está pronta para cumprir um importante papel: conectar a Reserva Biológica Poço das Antas, um dos principais habitats do Mico-Leão-Dourado, à Área de Proteção Ambiental Rio São João/Mico-Leão-Dourado.
Daqui a alguns anos, com o crescimento da vegetação no viaduto, a travessia dos animais se tornará mais segura e permitirá o encontro deles com outros membros da espécie que estavam isolados em outros fragmentos da Mata Atlântica.
Esse encontro é fundamental para a reprodução do mico, já que contribuirá para um intercâmbio genético, reduzindo o cruzamento entre parentes e, assim, os problemas de consanguinidade.
O trecho onde o viaduto se encontra foi escolhido após mapeamento que identificou os locais mais sensíveis ambientalmente e com altos índices de atropelamento de animais.” – texto da matéria “Mico-leão-dourado ganha 1º viaduto vegetado do Brasil, uma ponte para o futuro da espécie”, publicada em 2 de agosto de 2020 pelo portal G1
A entrega desse primeiro viaduto vegetado em rodovia federal do Brasil tem grande importância por apresentar aos gestores de estradas do país mais uma ferramenta para a redução de impactos desse tipo de empreendimento sobre a fauna. Pelo fato de o viaduto estar em território nacional, pesquisas sobre a efetividade de sua implantação poderão ser mais facilmente realizadas. Além disso, os dados levantados são de uma realidade brasileira e não adaptações de trabalhos de viadutos de outros países, com fauna que não é a nossa e em contextos bem diversos dos aqui encontrados.
O viaduto se somará a uma série de outras ferramentas de combate a atropelamentos (como cercas, passagens subterrâneas de fauna, sinalização adequada, sonorizadores no asfalto, educação ambiental aos motoristas, etc.) e de redução do “efeito barreira”. O sucesso de um projeto de redução de impactos aos animais silvestres sempre depende da conjugação de várias dessas possibilidades, dependendo do contexto a ser trabalhado.
Vale lembrar que o primeiro viaduto vegetado sobre estrada do Brasil foi construído na rodovia dos Tamoios, no município de Paraibuna (SP). No Pará, desde 2017 existe uma viaduto vegetado sobre a ferrovia que corta a Floresta Nacional de Carajás.