Por Dimas Marques
Jornalista e editor responsável do Fauna News
dimasmarques@faunanews.com.br
“Vivendo há 25 anos no cativeiro, este papagaio verdadeiro (Amazona aestiva) vai voltar à natureza. Moradora do bairro da Madalena, Rosimery de Souza Campos decidiu entregar o bichinho à Agência Estadual de Meio Ambiente (Cprh). A ave lhe foi deixada pela mãe, falecida há seis meses. Agora, passará por reabilitação no Projeto Papagaio da Caatinga e depois será solta na natureza, onde viverá com outras e poderá reproduzir, ajudando a sobrevivência da espécie.
O Projeto Papagaio da Caatinga é referência no Brasil. Ele foi implantado há oito anos pelo Ibama, e repassado à Cprh a partir de 2014. Nesses oito anos, já reabilitou 352 papagaios que estão livres na natureza, vivendo e reproduzindo. Rosimery esteve na Cprh com a neta Larissa, para fazer a entrega voluntária. Contou que o papagaio foi entregue à sua mãe por uma irmã, quando esta mudou-se para o Rio de Janeiro, em 1994. Após a morte da mãe, o papagaio ficou com Rosimery.
No último dia 7, no entanto, ao assistir a reportagem na TV Globo sobre o trabalho de triagem e reabilitação de animais, ela decidiu entregar a ave para que o louro volte à natureza. A reportagem mostrava que quem cria e/ou comercializa animais silvestres pode responder na Justiça por crime ambiental, o que é desconsiderado no caso da entrega voluntária. O papagaio já está no Centro de Triagem de Animais Silvestres da Cprh (Cetas Tangara), onde vem sendo preparado para voltar ao local de onde jamais deveria ter saído.” – texto da matéria “Papagaio passa 25 anos na gaiola mas vai voltar à natureza selvagem no Sertão”, publicada em 19 de março de 2019 pelo site OxeRecife
Está no parágrafo 5º do artigo 24 do no Decreto nº 6.154, de 2008:
“No caso de guarda de espécime silvestre, deve a autoridade competente deixar de aplicar as sanções previstas neste Decreto, quando o agente espontaneamente entregar os animais ao órgão ambiental competente.”
Infelizmente, o poder público pouco divulga sobre a entrega voluntária. Também investe trocados em projetos e campanhas de educação ambiental que conscientizem a população sobre os problemas relacionados à manutenção de animais silvestres em cativeiro e ao tráfico de fauna.
E sabe qual o motivo?
O poder público e as ONGs e universidades que mantêm centros de triagem e reabilitação de fauna (Cetas e Cras) não tem espaço e estrutura para receber mais animais. E pior, raríssimos são os investimentos para o atendimento de fauna silvestre.
Imagine o desespero do poder público se aumentar a quantidade de animais entregues pela população para as polícias militares ambientais, o Ibama e os Cetas e Cras.
Há também uma quantidade insuficiente de projetos de solturas de animais recuperados e de áreas de solturas cadastradas e monitoradas. Em geral, o Brasil não dá uma assistência eficiente aos animais silvestres vítimas de ações humanas.
Para a senhora Rosemary, parabéns pela iniciativa. A presença de sua neta nesse processo todo a tornará uma cidadã consciente sobre a necessidade de respeitar e conservar os animais silvestres.
Para o poder público, fica minha crítica.