Branqueamento dos corais chega mais uma vez ao Nordeste

Alertas da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (Noaa, sigla em inglês) do governo dos Estados Unidos vêm indicando, desde março, um alto nível de estresse térmico nos recifes de corais nordestinos, confirmando o observado branqueamento de corais nas águas brasileiras. O fenômeno acontece apenas dois anos após sua última onda do fenômeno e intensifica o risco para esses animais invertebrados.

De acordo com a bióloga e pesquisadora da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Barbara Pinheiro, o branqueamento já atinge toda a costa do Nordeste. Ela destaca as regiões dos Parrachos de Maracajaú e Atol das Rocas (RN), Fernando de Noronha (PE), João Pessoa (PB), Área de Proteção Ambiental (APA) Costa dos Corais (entre PE e AL) e a baía de Todos os Santos (BA). Em Abrolhos (BA), uma das principais formações recifais de todo oceano Atlântico sul, ainda não há relatos de branqueamento intenso, segundo o ICMBio. Essas áreas estão dentro dos mapeamentos do Noaa, que aponta um alerta de nível 2. Isso significa uma alta probabilidade de morte desses animais.

“Nas primeiras semanas de março, foram observados os corais ficando ‘pálidos’ e algumas espécies já branqueando totalmente, sobretudo os corais de fogo”, relata Barbara. “No início de abril, os monitoramentos já apontavam mais de 80% dos corais branqueados e, agora na segunda quinzena, infelizmente as pesquisas já apontam mortalidade sendo observada” finaliza. Ela se refere aos estudos realizados pelos pesquisadores do Programa de Pesquisa Ecológica de Longa Duração da Costa dos Corais de Alagoas na APA Costa dos Corais.

Como especialista, fico realmente impactada quando até o som dos organismos que vivem nos recifes está mais silencioso durante os mergulhos. Nunca vi um impacto como esse!”, destaca Barbara.

Todas as espécies de corais que ocorrem no Brasil já foram afetadas por essa onda de branqueamento, como os corais-duros ou verdadeiros, os corais-de-fogo (hidróides calcários) e os corais-moles (zoantídeos). Os corais e as algas zooxantelas vivem em simbiose, o que garante aos primeiros uma gama de cores e energia.

O branqueamento ocorre quando essa relação fica instável devido a algumas substâncias químicas que os corais acabam produzindo sob condição de estresse. O aumento das temperaturas oceânicas agrava isso, já que é como se o animal estivesse com “febre” e precisasse de ajuda. O branqueamento, ressalta Barbara, não significa a morte do animal, mas a longo prazo, sem as zooxantelas, seu destino é a morte.

El Niño e Amoc

O El Nino é um evento que sistematicamente representa um momento de atenção para o aquecimento da superfície dos oceanos. O que era um problema para o litoral do Pacífico passa a ser um problema global à medida que encontra um planeta cada vez mais quente, aponta o biólogo e professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Paulo Horta. O El Niño intensificou o fenômeno de branqueamento, provocando anomalias térmicas mais altas e por mais tempo.

Para piorar, mais um fator se soma a esse fenômeno. Neste ano, o aquecimento do Atlântico se tornou um alerta máximo para as consequências desse processo de aquecimento devido à mudança no padrão das correntes oceânicas, especialmente a Amoc (Atlantic Meridional Overturning Circulation, em inglês). Paulo Horta explica que essa corrente meridional atravessa o Atlântico, esfriando o oceano na medida que leva calor do Atlântico Sul para o Atlântico Norte. No entanto, “se essas correntes de fato reduzem a velocidade ou param – e elas estão na iminência de parar, segundo alguns estudos – nós podemos estar observando o processo de aquecimento ainda mais intenso no Atlântico, representando, de fato, uma cena terrível para os corais do litoral brasileiro, que vão enfrentar ondas de calor ainda mais intensas e frequentes” alerta Paulo.

Para evitar um futuro sem corais

Entre 2040 e 2050, é esperado que fenômenos como esses ocorram anualmente. Como consequência, haverá a mudança de composição dos ecossistemas e a extinção e substituição de espécies de corais por outros organismos mais resistentes às mudanças de temperatura e, com isso, a perda de funções importantes desse ecossistema, como a proteção costeira, além da própria redução da biodiversidade, relata Barbara Pinheiro.

O branqueamento em massa, causado pela elevação da temperatura global do planeta, só pode ser combatido se for respeitado o limite de 1,5° C de aumento. Por conta disso, a pesquisadora da Ufal afirma que o controle das emissões de CO2 é urgente. Além disso, medidas como a criação de unidades de conservação, restauração de ambientes costeiros e recuperação da saúde de bacias hidrográficas, diminuição da poluição orgânica por falta de saneamento e pelo lançamento efluentes industriais nos ambientes podem minimizar o impacto e aumentar a resiliência dos corais.