‘Há pelo menos 20 anos, o bicudo se calou. Esse pássaro de bico robusto, conhecido pelo canto que mais parece uma flauta, sumiu da natureza por causa da caça e da destruição de seu habitat.
Um grupo de pesquisadores, porém, vai reintroduzir as aves a seu ambiente natural.
O objetivo, a longo prazo, é criar uma nova população desses pássaros. Segundo o Ibama, o bicho está "criticamente ameaçado". O Brasil deve ter no máximo 200 bicudos soltos, estima o ornitólogo Luís Fábio Silveira, curador das coleções ornitológicas do Museu de Zoologia da USP e coordenador do projeto. No Estado de São Paulo, o pássaro está extinto.
Nesta quarta (11), o primeiro de dez casais será solto em uma reserva protegida no interior do Estado de SP.
Aos poucos, os 20 pássaros voarão pelo brejo, monitorados pelos ornitólogos e protegidos pela polícia ambiental e por seguranças privados.
O local não é revelado, a pedido dos pesquisadores, para proteger os bicudos da caça.
Essa atividade é a principal causa de sua desaparição. O tráfico é motivado principalmente pelo canto, que eleva seu valor para até R$ 80 mil –há relatos de um pássaro negociado por R$ 330 mil.
O autor do som flauteado é o bicudo macho adulto, que é preto, territorialista e briguento. Fêmea e bicudos jovens são marrons, como alguns dos que serão soltos. (…)
BATUQUE E FIOTE
Parte dos pássaros doados para o projeto veio de criadores. São aves que nasceram em cativeiro, criadas para participar de torneios de canto. Se há no máximo só 200 bicudos na natureza, há cerca de 50 mil bicudos em cativeiro, segundo criadores.
Diretor ambiental da Feosp (Federação Ornitológica de SP), Adir Dias da Silva Júnior admite que um ancestral dos pássaros que cria já foi antes caçado. Hoje, "o que vai salvar o bicudo é a sua criação em cativeiro, com a reprodução em casa", diz ele, que é um dos doadores.
Seu objetivo de vida, conta, é criar um filhote "que cante o canto perfeito".’ – texto da matéria “Quase extinto, pássaro famoso pelo canto será reintroduzido na natureza em SP”, publicada em 10 de novembro de 12015 pelo jornal Folha de S. Paulo
Apesar de a matéria do jornal deixar claro que os pássaros praticamente desapareceram da natureza para que fossem criados em cativeiro, pela captura e o tráfico, o representante da Federação Ornitológica de SP parece justificar o passado sombrio da atividade que representa com a fala de opção para a sobrevivência da espécie.
Mas será que a criação comercial em cativeiro é a salvação? Eticamente não deveria ser.
Veja o que Aloísio Tostes, é um dos criadores que doou os pássaros para soltura, afirma na matéria “Pássaros em risco de extinção no Brasil são devolvidos à natureza”, publicada em 11 de novembro de 2015 pelo portal G1:
"Vai ser a glória, o ápice da criação, a gente poder voltar aqui e ver esse bicho que nós acabamos de soltar, aninhando, chocando, tirando filhote, cantando para gente ver".
O Fauna News afirma: a criação em cativeiro desses pássaros foi a responsável pela quase extinção da espécie e agora, quando praticamente é detentora de quase todas as aves existentes, quer aparecer com ares heroicos de quem está atuando pela salvação.
Está ocorrendo uma inversão de valores. E essa inversão foi incentivada pelo Ibama que mantém há muitos anos o controle a criação de aves. Se esse tipo de atividade fosse proibida e houvesse fiscalização séria, além de uma política de conscientização e sensibilização da população, a natureza ainda teria uma boa quantidade de bicudos.
A conservação da espécie ficou refém do plantel de quem historicamente a delapidou.
– Leia a matéria completa da Folha de S. Paulo
– Leia a matéria completa do portal G1