A matéria do portal G1, publicada em 8 de maio de 2016, vale ser publicada na íntegra:
“O Centro de Recuperação de Animais Silvestres (Ceretas) da Unesp de Araçatuba (SP) está lotado. Um dos motivos é o aumento de animais vítimas de maus-tratos apreendidos na região, que são levados para o local. Segundo a Polícia Ambiental, cerca de quatro animais silvestres são recolhidos por dia na região de Araçatuba e encaminhados para o Ceretas.
A maioria dos animais recolhidos é de aves e após receber tratamento elas são levadas para um centro de conservação, mas como o número de apreensões tem crescido está complicado encaminhá-las. Em 2015, a Unesp de Araçatuba recebeu cerca de 600 aves. Só neste ano, foram mais de 300.
De acordo com o veterinário Sérgio Diniz, com o grande aumento de aves recolhidas o Ceretas está sem espaço físico e sem poder aquisitivo para manter o grande volume de animais. "Nós estamos sobrecarregados, normalmente temos o rodízio. Animais ficam de 15 a 20 dias no máximo e hoje há animais que estão conosco tem mais de um mês, porque não temos para onde encaminhar", diz.
As gaiolas estão lotadas, em apenas uma delas tem quase 20 pássaros que estavam mantidos em cativeiro. Araras, maritacas, periquitos há várias espécies que foram apreendidas e levadas ao Ceretas. No local também há jabutis e cágados, quase todos vítimas de maus-tratos ou atropelamento. Um dos cágados foi atropelado e se alimenta por sonda.
Um dos mais novos pacientes do Ceretas é um tamanduá-bandeira que chegou ao local há pouco mais de um mês. Ele perdeu a mãe e não consegue mais sobreviver sozinho na natureza e, por isso, recebe tratamento. "Se esses animais forem soltos na natureza morrem porque quem dá a alimentação para eles são as mães", diz.
Para o veterinário a solução para o problema seria a criação de novos centros de conservação. "A Secretaria do Meio Ambiente deveria credenciar novos centros conservacionistas ou áreas de soltura para gente poder encaminhar esses animais para um novo lugar", diz. A TV TEM entrou em contato com a Secretaria Estadual do Meio Ambiente, mas a assessoria de imprensa não informou se serão criadas novas vagas ou novos espaços.”
Desde 2011, quando entrou em vigor a Lei Complementar 140, que determina os papéis da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal na gestão ambiental do país, o governo federal praticamente encerrou seu trabalho com os centros de triagem e recuperação de animais silvestres (Cetas e Cras) e passou essa responsabilidade para os Estados. O Ibama ainda mantém uns poucos centros, mas não investirá mais na ampliação dos existentes ou na criação de outros.
Na função de gerenciar tais centros (responsáveis por receber animais resgatados ou apreendidos em situações de risco) estão as secretarias estaduais de meio ambiente que, na maioria dos Estados brasileiros, pouco fizeram. E vão continuar sem fazer… Além do fato de que a gestão competente da fauna silvestre não é prioridade dentro das já pouco priorizadas pastas de Meio Ambiente dos Estados e Municípios, ainda temos de enfrentar uma crise econômica que está obrigando os administradores públicos a apertar seus cintos e realizar muitos cortes.
Esse é o quadro geral do Brasil, apesar de haver alguns poucos Estados e Municípios com projetos de criação de Cetas. Mas é muito pouco para um país com uma das maiores biodiversidades do planeta.
Enquanto isso, animais continuam empilhados nos poucos Cetas e Cras existentes, que, aos poucos, transformam-se em depósitos de bichos.
Vale lembrar que de nada adianta ter vários desses centros se não existir uma rede de áreas de solturas e criadouros credenciados e preparados para receber os animais tratados nos Cetas e Cras, conforme salientado na matéria do G1 pelo veterinário Sérgio Diniz.