
Por Dimas Marques
Editor-chefe
dimasmarques@faunanews.com.br
Não é de hoje que caçadores e traficantes de animais estão na internet. Cada um com um objetivo diferente.
Enquanto os traficantes de fauna utilizam redes sociais e aplicativos de troca de mensagens para comercializar animais, os caçadores divulgam vídeos e fotos da matança que promovem para se vangloriar de seus atos e para discursarem em favor da legalização da atividade no Brasil. A caça comercial é proibida no país desde 1967 e a caça esportiva deixou de ser praticada em 2008, quando a Justiça a proibiu no único Estado em que ocorria, o Rio Grande do Sul.
E as polícias e o Ibama sabem de tudo isso. Além da falta de infraestrutura e equipes dos órgãos de fiscalização empenhadas em rastrear os criminosos a partir dos vídeos e fotos, o que também não é novidade, a fraca legislação que trata o crime como ilícito de “menor potencial ofensivo” faz com que os caçadores se sintam à vontade para se expor.
A caça não deixa ninguém preso no Brasil. Quando muito, os caçadores ilegais ficam detidos por conta do uso sem autorização de armamento ou por portarem armas irregulares.
O repórter da BBC Brasil, João Fellet, entrou em vários grupos do Facebook e páginas do YouTube de caçadores, e mostrou como é fácil identificar essas pessoa, a inércia do poder público por não reprimir com eficiência a atividade criminosa e o quanto esses veículos da internet não têm controle no conteúdo que disseminam.
“Enquanto o governo federal toma medidas para facilitar o acesso da população a armamentos, caçadores de animais silvestres têm recorrido a grupos no Facebook e a canais no YouTube para compartilhar cenas de caçadas e dicas sobre a atividade que, exceto nos casos da caça a javalis, é ilegal.
Grande parte das comunidades foi criada a partir de 2019, quando o presidente Jair Bolsonaro publicou uma série de decretos reduzindo as restrições aplicadas a colecionadores de armas, atiradores esportivos e caçadores — grupo conhecido pela sigla CACs.
Os decretos, porém, não alteraram o status da caça de animais silvestres, considerada crime no Brasil exceto quando praticada por comunidades que dependem dela para sobreviver, como povos indígenas e quilombolas.
O único animal passível de ser caçado legalmente no Brasil é o javali, uma espécie exótica que ameaça ecossistemas nacionais.” – texto da matéria “Caçadores expõem matança de animais silvestres no Facebook e YouTube”, publicada em 16 de junho de 2020 pelo site da BBC Brasil

E o que responderam o Facebook e o YouTube?
“Comunicado pela BBC News Brasil sobre a reportagem, o Facebook excluiu o grupo “Caçadores de paca”. “O grupo foi removido por violar os Padrões da Comunidade do Facebook, que claramente vedam posts que retratem ou promovam violência física contra animais”, disse a empresa, em nota.
Outros grupos na plataforma, porém, ainda exibem vídeos da caça de animais silvestres — como o “Caça e Pesca Brasil” e “cães de caça Brasília df”.
Já o YouTube, que mantém no ar todos os canais de caçadores apontados pela BBC News Brasil, disse em nota que é “uma plataforma de vídeo aberta, e qualquer pessoa pode compartilhar conteúdo, que está sujeito a revisão de acordo com as nossas diretrizes da comunidade”.
“Qualquer usuário que acredite ter encontrado uma violação dessas regras pode fazer uma denúncia e nossa equipe fará a análise do vídeo. Quando não há violação à política de uso do produto, a decisão final sobre a necessidade de remoção do conteúdo cabe ao Poder Judiciário, de acordo com o que estabelece o Marco Civil da Internet”, diz a empresa.” – texto da matéria da BBC Brasil
O Facebook está no caminho certo, apesar de suas ações contra esse tipo de conteúdo ainda serem bastante tímidas. Quem já tentou denunciar à rede social a veiculação de mensagens de exploração de animais, como caça e tráfico de fauna, sabe que raramente é tomada alguma ação efetiva.
O YouTube vestiu a máscara do “isentão”, afirmando serem apenas o meio e não tem responsabilidade com o conteúdo. YouTube, não existe isenção nesse tipo de situação: se está deixando acontecer, está compactuando com os caçadores.