
Análise de Dimas Marques
Editor-chefe
dimasmarques@faunanews.com.br
A Secretaria de Segurança Pública do Amazonas divulgou ontem, 18 de novembro, o seguinte texto informativo:
“A Polícia Militar do Amazonas (PMAM) bateu recorde nas ações de captura e resgate de animais silvestres. De janeiro até setembro deste ano, 658 animais foram identificados em situação de maus-tratos e encaminhados para centros de proteção ambiental na capital. Répteis como cobras, jacarés e quelônios estão entre os mais resgatados no ano.
O trabalho é realizado pelo Batalhão Ambiental da PMAM. Ao longo de todo o ano passado, 676 animais silvestres foram resgatados. Neste ano, entre janeiro e setembro, as ações nesse segmento acumulam alta de 95%, com 109 mamíferos, 207 aves, 113 répteis e 229 quelônios resgatados.
O estado de saúde do animal é o que determina para onde ele será encaminhado. Quando estão bem, eles são devolvidos à natureza. Já quando há algum ferimento, o bichinho é entregue aos cuidados do Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
De acordo com o major Wallasson Lira, comandante do Batalhão Ambiental, a avaliação verifica se há sinais de maus-tratos, doenças ou parasitas. Depois disso, é analisada a condição de reinserção do animal na natureza, o que é feito em parceria com o Ibama.
“Atuamos principalmente na fiscalização e combate aos crimes ambientais, não somente na calha dos rios, como nas rodovias, em ações integradas com outros órgãos. Nos últimos 90 dias, o batalhão vem trabalhando na operação ‘Hórus’, e o prejuízo para o crime ambiental foi de mais de R$ 20 milhões”, afirmou.
Em uma das ações do batalhão ambiental, foram apreendidas cerca de 12 mil peixes ornamentais da espécie Corydora, após patrulhamento na Balsa Verde da Manaus Moderna. Os envolvidos foram detidos e conduzidos para a Delegacia Especializada em Crimes contra o Meio Ambiente (Dema), da Polícia Civil do Amazonas. Os peixes foram encaminhados para o Cetas.
“Geralmente o infrator já passou pela polícia e tem contatos no exterior. Alguns chegam a usar os ribeirinhos para a caça, tanto peixe como outros animais são levados para o mercado internacional”, explicou.
Situações de resgate
O Batalhão pode ser acionado pela população nos casos em que animais silvestres são encontrados em residências ou em vias públicas e, ainda, nas situações de entrega espontânea.
Conforme o artigo 29 do Código Ambiental, matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, ou em desacordo com a obtida, pode resultar em detenção de seis meses a um ano e multa.
Para denúncias ou pedidos de resgate, a população pode entrar em contato pelo telefone do Batalhão Ambiental da Polícia Militar, que atende no (92) 98842-1553 ou 98842-1547. As denúncias também podem ser feitas ao 181, o disque-denúncia da Secretaria de Segurança Pública (SSP-AM).
Foi por meio de denúncias que ocorreram 64% das ações de captura. Outros cerca de 30% se deram por entregas voluntárias.”

Para o governo do Amazonas, duas considerações devem ser feitas. Uma, dando parabéns ao Batalhão Ambiental da PM, que está cumprindo sua função ao realizar as apreensões e resgates de animais silvestres.
A outra vale como um puxão de orelha…
O governo de um estado gigantesco, com o mais cultuado bioma brasileiro, a Amazônia, divulga as ações de sua polícia ambiental, mas não possui sequer um centro de triagem e de reabilitação de animais silvestres. O único existente em seu território fica em Manaus, pertence ao Ibama e é sabido que está sobrecarregado.
Ninguém se pergunta que tipo de atendimento essa quantidade de animais recorde apreendida e resgatada pela Polícia Militar terá? A população tem que saber que cada bicho que os policiais retiram das mãos de traficantes de fauna e de cativeiro doméstico ilegal ou atendem em situações em que se machucou deve ir para um centro de triagem e de reabilitação, conhecido como Cetas, Cras ou ainda Cetras.
Não me parece justo divulgar um bom serviço (o da PM) e reforçar, no imaginário da população, que os problemas dos animais terminam assim que estão nas mãos dos policiais. As pessoas acham que esses animais recebem atendimento ou são imediatamente soltos, devolvidos à vida livre. E não é nada disso.
Esses animais vão ainda enfrentar uma dura fase de recuperação e, se tiverem sorte, voltarão para a natureza. Se existisse uma rede de centros de triagem e de reabilitação estruturada, essa difícil fase poderia ser menos complicada para cada espécime atendido.
O sistema está colapsado. E não é só no Amazonas. É assim em boa parte do Brasil.
A prefeitura de Manaus fechou seu Cetas. O governo do Estado não possui nenhum. Então fica tudo com o centro do Ibama.
Insuficiente.
Não surpreende que os políticos e gestores públicos façam essa divulgação manca, mostrando só o lado bom e induzindo a população a acreditar que os animais silvestres estão sendo salvos. Mas surpreende a imprensa não enxergar isso.
O texto de divulgação da Secretaria de Segurança Pública do Amazonas, acima reproduzido, foi copiado e publicado na íntegra por veículos de imprensa do Estado. Se você tiver curiosidade, jogue no Google o título da matéria do governo (“Batalhão Ambiental bate recorde de resgate de animais silvestres”) e você encontrará o mesmo conteúdo em A Crítica, Informe Amazonas e Amazonas Notícias. O G1 Amazonas e o D24am praticamente só mudaram o título.
Cadê o jornalismo?