
Por Fernanda Zimmermann Teixeira
Bióloga, mestre e doutora em Ecologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). É pós-doutoranda no Laboratório de Ecologia da Paisagem da Carleton University (Canadá) e integrante do Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF-UFRGS)
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Uma estrada estava em construção no Rio Grande do Sul e, quando estava pronta, mas ainda sem nenhum veículo trafegando, os técnicos ambientais que estavam monitorando os animais encontraram carcaças de anfíbios no asfalto.
Se não havia veículos trafegando na estrada, como esses anfíbios morreram?
Em uma monografia produzida no curso de Especialização em Inventariamento e Monitoramento de Fauna da UFRGS em 2015, a aluna Suzielle Paiva, técnica ambiental que trabalhava no monitoramento ambiental da construção da rodovia BR-448, relatou ter observado os anfíbios mortos e ter começado a se questionar sobre esse assunto.
Em 17 de dezembro de 2013, quando a estrada ainda estava fechada ao tráfego de veículos, foram observados e coletados 76 indivíduos mortos da espécie Leptodactylus latrans, conhecida como rã-manteiga. A partir disso, algumas hipóteses foram levantadas para tentar entender qual a causa dessa alta mortalidade numa estrada sem carros.
Você alguma vez já viu um vapor saindo do asfalto num dia quente? Isso é um indicativo de que o asfalto está numa temperatura muito elevada. Então, uma possibilidade seria que esses animais são atraídos para a estrada e morrem dissecados com as altas temperaturas do asfalto.
Esses animais podem ser atraídos para a estrada em função da presença de poças d’água, mas quando a temperatura aumenta e a água evapora, eles acabam se dando mal.
A mortalidade sem carros é mais um efeito de rodovias que é negligenciado, mas que pode ter um efeito sobre as populações animais.