
2016 vai ficar mesmo para a história. E não só por causa das investigações sobre corrupção, das crises política e econômica, de guerras, ataques terroristas e algumas tragédias… Até o universo do tráfico de fauna e da criação ilegal de animais silvestres como bichos de estimação resolveu deixar sua marca. Alguém aí já tinha se deparado em jacaré sendo criado em casa e pinguim vivendo em um apartamento de cobertura?
Para deixar esses casos ainda mais insólitos, que tal se esses animais estivessem na Região Metropolitanas de São Paulo e na cidade do Rio de Janeiro?
Pois é… e não é que policiais se depararam com essas situações.
O primeiro caso aconteceu em 13 de dezembro, em Humaitá, bairro de classe-média da zona sul do Rio de Janeiro, onde foi encontrado um pinguim-de-magalhães entre dezenas de outros animais.
“A Polícia Civil do Rio descobriu numa espécie de zoológico clandestino numa cobertura no Humaitá, Zona Sul do Rio, nesta terça-feira (13).
Além do pinguim, os agentes encontraram papagaios, araras, micos, tucano, porco espinho, corujas e outros animais exóticos. A dona do apartamento, Maria Cecília Breves foi autuada por crime ambiental.
Em depoimento à polícia, Maria Cecília disse que recebia animais abandonados e começava a cuidar deles.” – texto da matéria “Moradora da Zona Sul do Rio mantinha pinguim em 'zoológico particular', diz polícia”, publicada em 13 de dezembro de 2016 pelo portal G1
As apreensões foram realizadas pelos policiais da Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA). O pinguim foi levado de avião dia 21 para Centro de Recuperação de Animais Marítimos (CRAM) da Universidade Federal de Rio Grande (Furg), onde será reabilitado para retornar à natureza.
Em 14 de dezembro, policiais da Delegacia de Investigações sobre Infrações contra o Meio Ambiente (Dicma) de Diadema (SP) começaram a operação Ades no município do ABC paulista. O trabalho, que contou com apoio da ONG SOS Fauna, seguiu pelo dia seguinte com base em informações de denúncias e investigações. Mais de uma centena de aves foram apreendidas (incluindo dois pavões, papagaios e periquitões), jabutis, tartarugas, um quati e um jacaré-de-papo-amarelo. Alguns animais tinham nota fiscal, mas o delegado que registrou a ocorrência decidiu apreendê-los e deixá-los com a pessoa que os criava, enquanto realizava mais investigações (o que inclui o crime de maus-tratos).
O jacaré estava em um tanque de concreto construído na laje de uma casa. O recinto não tinha qualquer enriquecimento ambiental para proporcionar melhor condições físicas e psicológicas ao animal.
Seja em uma cobertura de um bairro rico da zona sul do Rio de Janeiro ou em uma área mais periférica da região Metropolitana de São Paulo, o hábito de criar animais silvestres como bichos de estimação está presente… e alimentando o tráfico de fauna. Os policiais cumpriram sua obrigação. Mas a legislação é inócua para punir e educar os infratores e não existe educação ambiental para formar futuras gerações conscientes da necessidade de se manter os animais livres na natureza.
Sempre vale lembrar que, em estimativa de 2001 da Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (Renctas), 38 milhões de animais silvestres são retirados todos os anos da natureza brasileira para abastecer o mercado negro de fauna – sem contar peixes e invertebrados.
– Leia a matéria do G1 sobre a apreensão do Rio de Janeiro
– Leia o post do presidente da SOS Fauna, Marcelo Pavlenco Rocha, sobre a apreensão do jacaré em Diadema