Depois do cativeiro, o abandono

Dimas Marques
  • Dimas Marques

    Editor-chefe

    Formado em Jornalismo e Letras, ambos os cursos pela Universidade de São Paulo. Concluiu o curso de pós-graduação lato sensu “Meio Ambiente e Sociedade” na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo com uma monografia sobre o tráfico de fauna no Brasil. É mestre em Ciências pelo Diversitas – Núcleo de Estudos das Diversidades, Intolerâncias e Conflitos da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, onde pesquisou a cobertura do tráfico de animais silvestres por jornais de grande circulação brasileiros. Atua na imprensa desde 1991 e escreve sobre fauna silvestre desde 2001.

    Fauna News
27 de dezembro de 2011
Muita gente que compra animais silvestres provenientes do
tráfico não sabe com o que está lidando. Após algum tempo, aquele bicho, que quando
foi adquirido era um pequeno filhote ou estava dopado, passa a ter seu
comportamento normal. Por ser selvagem, não tem o mesmo comportamento de um
animal doméstico, não obedece, pode ser agressivo e por aí vai…

E sabe o que acontece muitas vezes? Abandono. Veja o que
está ocorrendo na Inglaterra com animais traficados da América do Sul:

“O dono de uma loja que vende animais domésticos na
Grã-Bretanha conta que sempre toma muito cuidado quando encontra uma caixa
deixada diante do seu estabelecimento comercial.

Não é para menos. Nesta semana, pela quarta vez em apenas um
ano e meio, o proprietário da Wickid Pets encontrou um caixa contendo um jovem
crocodilo.


Wicks com crocodilo abandonado diante de sua loja
Foto: newsteam.com.uk

O animal com um metro de comprimento é proveniente da
América do Sul e teria entre quatro e cinco anos de idade. Ela pode alcançar
até 2,5 metros de comprimento.

Segundo o proprietário da Wickid Pets, Jimmy Wicks, os
crocodilos adquiridos legalmente costumam conter um microchip em seus corpos.

”Ela foi submetida a um escâner e não conta com um chip no
corpo. Por isso, ela obviamente é proveniente do mercado negro”, afirmou.”

texto da matéria “Abandono de
crocodilos diante de loja de animais inglesa vira ‘rotina’”, publicada em 17 de
dezembro de 2011 pela BBC Brasil


E isso não acontece
apenas na Inglaterra. Nos parques urbanos, esses que frequentamos nos finais de
semana, e nas unidades de conservação (como estações ecológicas, parques nacionais
e estaduais, etc) os animais são soltos, potencializando a ocorrência de
diversos problemas.

Além da possibilidade
de o bicho não sobrevier em um hábitat totalmente estranho ao seu natural, ele
pode introduzir diversas doenças em um ambiente incapaz de combatê-las. No
caso de ocorrer adaptação, é possível que ele comece a predar animais 
e a competir por alimentos com outras espécies, causando um desequilíbrio
que pode causar extinções e danos irreversíveis.

Por isso, não
adquira ou capture animais silvestres. E se, por um acaso, você tem um e não o quer mais, não o abandone. Entregue ao Ibama, ao órgaõ de fiscalização ambiental de seu Estado ou à polícia ambiental – “segundo o § 3º do Decreto nº 3.179/99 quando a pessoa que “possui” o animal o entregar voluntariamente ao órgão ambiental competente, a autoridade não deverá aplicar as sanções previstas.” – texto do site do Ibama

CORREÇÃO:

O Decreto nº 3.179, de 1999 deixou de valer após a publicação do Decreto nº 6.154, de 2008. Apesar da mudança, o novo Decreto manteve a determinação de não aplicar as sanções no caso da entrega voluntária do animal.

Está no parágrafo 5º do artigo 25:

“No caso de guarda de espécime silvestre, deve a autoridade competente deixar de aplicar as sanções previstas neste Decreto, quando o agente espontaneamente entregar os animais ao órgão ambiental competente.”

Portanto, se você cria irregularmente algum animal silvestre, pode entregá-lo espontaneamente.

Correção feita: pena que o site do Ibama divulgue uma informação errada.

Fauna News

Sobre o autor / Dimas Marques

Formado em Jornalismo e Letras, ambos os cursos pela Universidade de São Paulo. Concluiu o curso de pós-graduação lato sensu “Meio Ambiente e Sociedade” na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo com uma monografia sobre o tráfico de fauna no Brasil. É mestre em Ciências pelo Diversitas – Núcleo de Estudos das […]

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