Programa de conservação do mico-leão-preto completa 40 anos

O Programa de Conservação do Mico-leão-preto do Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ) está completando 40 anos. O Leontopithecus chrysopygus, que só existe na mata atlântica do interior paulista, é uma das espécies de primatas mais ameaçadas de extinção do mundo. Entre as recentes ações para evitar a extinção do animal, a ONG realizou, em janeiro, a transferência de cinco micos do Parque Estadual Morro do Diabo para a reserva legal da Fazenda San Maria, ambos na região do Pontal do Paranapanema (SP).

De acordo com a coordenadora do programa, Gabriela Rezende, a chamada “translocação” – que é a transferência de animais de um espaço e para outro – é necessária porque a reserva legal da fazenda abriga menos de 20 micos, o que representa risco de a espécie se extinguir na área pelas próximas décadas. Além da baixa variabilidade genética, explica a pesquisadora, o fragmento de mata atlântica possui um tamanho reduzido, o que também dificulta a continuidade da espécie.

Suplementando essa população, levando mais micos para lá, ganhamos tempo para, a partir da restauração de corredores florestais, conseguirmos a conectividade funcional da reserva com outras áreas de floresta da região, o que pode levar 20-30 anos”, explicou Gabriela.

Essa foi a sexta translocação de micos-leões-pretos realizada pelo programa. O processo de transferência começou em abril de 2023, com a observação dos animais. Em janeiro deste ano, os cinco micos escolhidos – composto por indivíduos subadultos em idade de dispersão – foram marcados com microchips e posteriormente foi feita a soltura. Segundo o veterinário do programa, Daniel Felippi, a ação ocorreu na época de maior disponibilidade de frutos na área, o que “aumenta as chances de adaptação e sobrevivência dos micos”, explicou. “São esses indivíduos que irão garantir o aumento da variabilidade genética da população, a partir da formação de novos grupos com animais do local”, finalizou.

As últimas atualizações da reserva legal da Fazenda San Maria revelam que dois dos cinco micos permanecem juntos. Gabriela comenta que ainda não é possível apontar o motivo da separação do grupo, embora haja possibilidade de que tenha ocorrido alguma morte ou emigração. A pesquisadora espera, futuramente, apresentar um novo diagnóstico dessa população.

Corredores da Vida

No parque, que fica a trinta quilômetros do fragmento florestal da fazenda, vivem cerca de 1.200 micos-leões-pretos. A discrepância com a pequena população da reserva legal da propriedade pode ser explicada pela falta de conectividade entre as áreas.

O problema da fragmentação do hábitat do primata estimulou a criação de outro projeto pelo IPÊ: o Corredores de Vida. O objetivo é restaurar áreas estratégicas para a conectividade entre os espaços que a espécie ocupa, como as duas unidades de conservação da região – o Parque Estadual Morro do Diabo e a Estação Ecológica Mico-Leão-Preto.

Gabriela Rezende afirma que o projeto já plantou mais de seis milhões de árvores na região, incluindo os 2,4 milhões que formam o maior corredor florestal já restaurado no bioma. A pesquisadora destaca que a conservação do mico-leão-preto deve seguir em duas direções paralelas, envolvendo o manejo do animal e o cuidado com o seu ecossistema. “Se focarmos no manejo e não cuidarmos do hábitat, não teremos o resultado esperado” explica ela. “Por outro lado, se cuidarmos do hábitat sem realizar manejo, pode ser que a gente perca populações no tempo em que essa floresta está sendo restaurada”.

Programa completa 40 anos

A primeira translocação do programa ocorreu em 1995. Mais quatro se seguiram até 2008. Ao todo, foram movimentados 22 micos-leões-pretos para a Fazenda Mosquito, em um fragmento onde a espécie não estava mais presente.

Com a última translocação de janeiro, o programa atinge a marca de 27 indivíduos transferidos.