Nossa fauna, via Portugal, para o resto da Europa

Dimas Marques
  • Dimas Marques

    Editor-chefe

    Formado em Jornalismo e Letras, ambos os cursos pela Universidade de São Paulo. Concluiu o curso de pós-graduação lato sensu “Meio Ambiente e Sociedade” na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo com uma monografia sobre o tráfico de fauna no Brasil. É mestre em Ciências pelo Diversitas – Núcleo de Estudos das Diversidades, Intolerâncias e Conflitos da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, onde pesquisou a cobertura do tráfico de animais silvestres por jornais de grande circulação brasileiros. Atua na imprensa desde 1991 e escreve sobre fauna silvestre desde 2001.

    Fauna News
22 de janeiro de 2013
Portugal se consolidou como porta de entrada da fauna brasileira e de outros países para abastecer o desejo dos europeus de ter aves exóticas como bichos de estimação ou peças de coleções. E a criação em cativeiro (defendida por alguns segmentos e estudada pelo Ibama para ser ampliada no Brasil) não está resolvendo o problema do tráfico na Europa.

‘Mas, apesar da Europa ter legislação que obriga ao registo de todas as espécies, através do CITES, o fascínio por animais raros e selvagens ainda move colecionadores internacionais, que optam pelo mercado paralelo.

Em 2011, Portugal registrou a maior apreensão de aves ilegais, ao detetar mais de cem ovos de aves raras, transportados de avião e colados ao corpo de ‘correios’ contratados por traficantes, referem os dados do ICNF. Já em 2012, aumentaram os roubos de aves a particulares.

Arara-azul-de-lear: 90 mil euros (cerca de 244 mil reais) na Europa
Foto: Adriano A. Paiva


João Loureiro, biólogo e responsável do ICNF (Instituto de Conservação da Natureza e Florestas – esclarecimento do Fauna News), nota que estas duas atividades são distintas. “O tráfico implica redes, com ligações ao Brasil, de que Portugal é uma porta de entrada para a Europa. No caso dos roubos, cujo número aumentou exponencialmente, serve essencialmente para a venda a particulares, pois o português sempre gostou de ter aves.”’
– texto da matéria “O mundo das aves raras”, publicada em 20 de janeiro de 2013 pelo jornal português Correio da Manhã

O jornal esclarece que Esse tipo de tráfico de fauna funciona por meio de quadrilhas especializadas, com brasileiros envolvidos. A situação é bastante diferente do mercado negro brasileiro, onde o comércio ilegal é bastante pulverizado em quadrilhas pequenas e menos organizadas.

“São precisamente as espécies raras, e por isso mais valiosas, as preferidas no tráfico, diz João Loureiro. “Em Portugal não há colecionadores com o poder de compra de outros países”, nota, frisando que se um papagaio pode atingir um valor de 15 mil euros, e por isso ser suscetível de cativar um colecionador local, a arara-azul-de-lear, que chega a valer 90 mil euros, é uma das espécies mais ‘exportáveis’. “Quanto mais rara é a espécie, mais cara se torna no comércio ilegal, pois no caso de ser uma espécie protegida nem sequer se pode comprar legalmente”, explica o biólogo.

Em Portugal, já foram “intersetadas algumas das aves mais caras e desativadas quatro redes de tráfico, que incluíam portugueses, brasileiros e outros estrangeiros. Muitas destas redes funcionam para branqueamento de dinheiro e estão ligadas a outros negócios ilegais, como tráfico de droga e tráfico humano”, explica o responsável do ICNF.

OVOS DE OURO
O tráfico faz-se essencialmente com ovos, transportados via aérea – que podem custar de dez a 50 mil euros, diz fonte do SEPNA, Serviço de Proteção da Natureza e do Ambiente da GNR – e que assim facilitam a ‘legalização’ das aves já nascidas em solo europeu. (…)”
– texto do Correio da Manhã

Brasileiro preso em Portugal com 30 ovos de papagaios em  2011

Foto: Divulgação Ibama

E todo esse tráfico acontece em uma Europa onde, em diversos países, é legal a criação de animais em cativeiro para fins comerciais. No Brasil, o Ibama realizou até 30 de dezembro uma consulta pública para elaboração de uma lista de animais silvestres que poderiam ser criados e comercializados como bichos de estimação – a chamada “lista pet”. Nessa consulta, entretanto, não exista a possibilidade de optar pela NÃO elaboração dessa lista em defesa da proibição total do comércio da fauna silvestre.

A redução do tráfico de animais depende, essencialmente, de campanhas massivas de educação ambiental, aliadas a forte fiscalização e legislação adequada (o que não é o caso do Brasil).

– Leia a matéria completa do Correio da Manhã
– Releia os posts do Fauna News: “Reflexão para o fim de semana: começou a consulta pública sobre a “lista pet” e a divulgação medíocre”, de 7 de dezembro de 2012, e “Reflexão para o fim de semana: a farsa da consulta pública sobre a “lista pet” foi prorrogada”, de 21 de dezembro de 2012

Fauna News

Sobre o autor / Dimas Marques

Formado em Jornalismo e Letras, ambos os cursos pela Universidade de São Paulo. Concluiu o curso de pós-graduação lato sensu “Meio Ambiente e Sociedade” na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo com uma monografia sobre o tráfico de fauna no Brasil. É mestre em Ciências pelo Diversitas – Núcleo de Estudos das […]

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