Resgates de animais dos incêndios no Pantanal seguem intensos

O Pantanal segue batendo recordes de focos de incêndio e já ultrapassou a marca de 1,5 milhão de hectares queimados desde o início de 2024. E a fauna silvestre sofre consequências como mortes, ferimentos, perda de hábitat e falta de alimentos, conhecida como “fome cinza”. Na última terça-feira, 13 de agosto, o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima divulgou o sétimo boletim sobre o combate aos incêndios florestais no bioma: até a data, 564 animais silvestres haviam sido resgatados.

Este número não para de crescer. O Grupo de Resgate Técnico Animal do Pantanal (Gretap) tem divulgado diariamente em suas redes sociais a equipe em campo, realizando os primeiros socorros a animais como veados-campeiros (Ozotoceros bezoarticus) e onças-pintadas (Panthera onca), principalmente na região entre os municípios sul-matogrossenses de Miranda e Corumbá. Na região, os focos de incêndios permanecem ativos, com alguns sendo controlados.

No dia 15, o Fauna News noticiou o resgate de uma onça-pintada, que foi batizada como Miranda, devido ao nome do município do Mato Grosso do Sul onde foi localizada.

Santuário de vida silvestre devastado pelo fogo

Um incêndio de grandes proporções atingiu o a fazenda Caiman, em Miranda (MS), no dia 1º de agosto. A propriedade é conhecida por abrigar importantes áreas de estudos de projetos de conservação de fauna do Pantanal, como o Instituto Arara Azul, o Instituto Tamanduá e o Onçafari.

A bióloga e presidente do Instituto Arara Azul, Neiva Guedes, atua na região há mais de 30 anos e disse que já enfrentou vários incêndios na área ao longo dos anos, mas nenhum como esse. “Queimou demais em uma escala muito grande. Em 48 horas, as chamas varreram tudo”.

O Instituto contabilizou que dois ovos, dos 21 que estavam nos ninhos monitorados, foram perdidos. Porém, ainda há danos ambientais que seguirão no longo prazo. A fumaça pode afetar os ovos que permanecem nos ninhos e até os novos filhotes, além de espantar os casais da área.

A ONG Onçafari publicou, em seu perfil no Instagram, que uma das onças-pintadas que monitoravam morreu durante os incêndios. Gaia, como era conhecida, era acompanhada desde maio de 2013. Durante esses 11 anos, ela teve quatro filhotes. A perda de uma fêmea da espécie representa muito para a conservação do felino, pois com ela há também a perda de possíveis filhotes que poderiam ser gerados até o final de sua vida reprodutiva – que é em torno dos 15 anos, de acordo com o Plano Nacional de Conservação (PAN) da espécie.

No sábado, 17 de agosto, uma ação conjunta entre Polícia Militar Ambiental, ICMBio, Gretap e a ONG Instituto Reprocon resgatou um macho de onça-pintada conhecido como Antã. O animal, que é monitorado pelo Reprocon, estava em uma região conhecida como Passo do Lontra, com ferimentos causados pelo fogo e bastante debilitado. Ele foi conduzido ao Centro de Reabilitação de Animais Silvestres do governo do Estado, em Campo Grande, onde segue em tratamento.

Esforços para reintrodução de espécies voltaram à estaca zero

Outra espécie que sofreu muito com o incêndio no refúgio Caiman foi o tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla). A veterinária e presidente do Instituto Tamanduá, Flávia Miranda, informou, em vídeo nas redes sociais da ONG, sobre a recaptura de filhotes que haviam sido resgatados nos incêndios de 2020 e já tinham retornado para vida livre.

A ação foi necessária para que os animais não sofressem com a chegada do fogo.

Para animais que estão em reabilitação e reintrodução, é como se tivéssemos retornado à estaca zero”, explicou a presidente do Instituto Tamanduá.

Flávia também reforçou que a estratégia neste momento é montar um hospital veterinário provisório para atendimentos emergenciais aos possíveis animais que chegarão afetados pelo fogo, na própria Caiman. Após receberem os primeiros cuidados, os espécimes serão encaminhados para o Cras ou para outros locais destinados pelo Gretap e pelo Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul).

• O Instituto Tamanduá está pedindo doações para o atendimento de animais vítimas dos incêndios.