
Por Jefferson Renan de Araújo Leite
Veterinario do Centro de Controle de Zoonoses de Mogi das Cruzes e veterinário responsável na Zoomédica Assistência Médica Veterinária
Com 415 mil habitantes e 721 km² de território, Mogi das Cruzes é um município da Grande São Paulo que apresenta mais de 65% de seu território em áreas de proteção ambiental, que abrigam espécies raras da fauna e da flora. Podemos citar como exemplos da nossa fauna peculiar, o sagui-da-serra-escuro (Callithrix aurita), o caburé-acanelado (Aegolius harrisii), o bicudinho-do-brejo-paulista (Formicivora paludicola) – essa última, uma ave recém-descoberta e que já está criticamente ameaçada de extinção, pois tem como morada não mais que 20 pequenas áreas de brejos nos arredores dos rios Tietê e Paraíba, no Vale de Paraíba.
Esses remanescentes florestais de Mogi das Cruzes abrigam uma rica biodiversidade que ainda não é totalmente conhecida e desperta o interesse de inúmeros pesquisadores, do Brasil e do mundo, além de atrair turistas e amantes da natureza, que chegam ao município interessados nesses atrativos.
Infelizmente, assim como outras cidades do Brasil, Mogi das Cruzes sofre a pressão do crescimento urbano e boa parte de suas áreas de proteção ambiental são limítrofes a aglomerados urbanos, estradas e estruturas construídas pelo homem, que oferecem riscos à integridade física dos animais silvestres, alterando ou destruindo seus habitat, aumentando o risco de extinção e também promovendo o contato, muitas vezes de risco, com seres humanos.
Quase que diariamente, são recolhidas por instituições públicas como Polícia Ambiental, Corpo de Bombeiros, Centro de Controle de Zoonoses e, muitas vezes, clínicas veterinárias particulares, dezenas de exemplares de espécies silvestres, que chegam a esses locais por serem vítimas de acidentes, maus tratos, do tráfico ou mesmo porque adentraram áreas urbanizadas e poderiam trazer riscos para sua integridade e também para a população.
Por causa disso, há anos estamos lutando para criação de um Centro de Triagem de Animais Silvestres (CETAS) em nossa cidade, o que minimizaria uma série de problemas relacionados ao encontro desses espécimes que necessitam de um cuidado especial e especializado tão logo sejam resgatados, se estendendo até o momento em que possam obter um destino adequado. Desde então, temos trabalhado através de ações que incluam a mobilização popular, a colaboração da imprensa local e também a atuação dos legisladores para que possamos contar com esse equipamento na cidade.
No último dia 03 de maio, conseguimos realizar um debate, com autoridades e a população, expondo as necessidades de cada uma dessas pontas na problemática do atendimento à fauna silvestre local. Esse encontro serviu como base para a elaboração de um documento, que será encaminhado ao executivo municipal e estrutura nossa defesa à criação do CETAS.
O caminho agora é longo e depende de uma série de providências que envolvem desde a captação de recursos até a transposição de barreiras burocráticas. Mas não estamos mais sozinhos. Vários setores da sociedade estão nessa luta e espero, em breve, retornar aqui para dizer que, enfim, conseguimos.
Nota do Fauna News: a prefeitura de Mogi das Cruzes cedeu um terreno de 1.270 metros quadrados dentro de um parque municipal para a implantação do Cetas, cujo o projeto está estimado em R$ 800 mil. Atualmente, os animais apreendidos ou resgatados na região do Alto Tietê são encaminhados para o Centro de Recuperação de Animais Silvestres (Cras) do Parque Ecológico do Tetê, na capital paulista. Desde 2011, essa instituição já recebeu mais de dois mil animais da região de Mogi das Cruzes, sendo que 85% são daquele município.