Por Igor Pfeifer Coelho
Biólogo, mestre e doutorando em Ecologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Pesquisador em Ecologia de Estradas desde 2003, é integrante do Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias da mesma universidade (NERF-UFRGS)
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Os anfíbios anuros (sapos, rãs e pererecas) são o grupo de animais com maior mortalidade por atropelamento em muitas regiões. Como são animais pequenos, difíceis de enxergar, e facilmente removidos das estradas depois de atropelados, ainda estamos longe de ter uma real dimensão dessa mortalidade. Três estudos que tentam estimar um valor mais próximo do real trazem números assombrosos: 159 atropelamentos por ano a cada quilômetro de estrada no deserto do Parque Nacional Saguaro (EUA), mais de 9 mil atropelamentos/km/ano na ERS-389, que margeia o Parque Estadual de Itapeva (RS), e mais de 10 mil mortes/km/ano em New South Wales (Austrália).
Quem já procurou sapos atropelados (por profissão ou hobby investigativo) sabe que é comum encontrarmos entre as carcaças esmagadas ou dilaceradas alguns indivíduos sem nenhum sinal de lesão externa, apenas com a língua (e às vezes as vísceras) para fora da boca. Como teria morrido esse sapo se não foi esmagado pelas rodas ou por uma batida em alguma outra parte do veículo?
Seria algum predador sarcástico que mata puxando as vísceras pela boca (o chupa-sapo!)??? Não. A verdade é que sapos explodem.
Quando um veículo se desloca a alta velocidade, ocorre uma onda de alta pressão pelo deslocamento de ar. Quando esse veículo passa por um sapo, mesmo sem tocar nele com as rodas ou outra parte, essa alta pressão causa lesões internas que levam à morte esses animais. É isso mesmo. Estamos explodindo sapos por aí sem nem perceber. Em um estudo de simulações dessa onda de pressão em laboratório, Hummel descobriu que mesmo veículos em velocidades pouco acima de 30 km/h podem causar a morte de sapos.
Qual seria a proporção de sapos mortos por veículos que morreram por explosão e não por esmagamento ou colisão? Se morrerem mais sapos por explosão, reduzir a velocidade, nos trechos e/ou períodos de maior travessia desses animais, a um nível em que a onda de pressão não cause danos, poderia diminuir um bocado da mortalidade. Contudo, qual seria essa velocidade? Segundo o estudo de Hummel, menor que 30 km/h. Mas, infelizmente, velocidade baixa não é uma medida simpática aos usuários de rodovias e compartilhar estradas ainda está longe do nosso comportamento. Ainda, se a proporção dos sapos que morrem esmagados (e não explodidos) é grande, apenas reduzir a velocidade (mesmo que a 30km/h) não adiantaria muito. Sapos e motoristas não “se enxergam” muito e, mesmo a velocidades baixas, os esmagamentos e colisões ocorrem.
Para os anfíbios anuros, medidas mais eficientes de mitigação parecem ser cercas e passagens especiais ou o fechamento temporário de trechos das estradas em períodos de maior travessia, como os eventos de reprodução.