Por Jefferson Leite
Veterinário especialista em Perícia Médica Veterinária e em Saúde Pública, coordenador do Núcleo de Prevenção e Controle de Arboviroses do Centro de Controle de Zoonoes de Mogi das Cruzes (SP) e clínico de animais.
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Descrita há pelo menos 4 mil anos, a raiva é a zoonose mais antiga que se conhece. Desde Aristótoles, a enfermidade é temida e já era relacionada ao ataque de cães e lobos “furiosos”. Somente em 1885, o cientista Louis Pasteur, após anos de estudos sobre a doença, conseguiu testar pela primeira vez em humanos uma vacina que evitou a morte certa de um garoto, Joseph Meister, atacado por um cão raivoso.
Muitos anos se passaram desde então e a raiva ainda faz vítimas na atualidade. Embora a doença seja transmitida principalmente por animais domésticos, o vírus circula entre animais da fauna silvestre e, nos últimos anos, esta tem sido uma importante forma de contágio. Os morcegos hematófagos são, hoje, um dos principais transmissores de raiva para o homem, mas qualquer espécie de quiróptero pode albergar o vírus.
Canídeos silvestres e primatas não humanos também são importantes reservatórios do vírus rábico no Brasil e nas Américas. É importante que as vigilâncias epidemiológicas dos Municípios e dos Estados estejam preparadas para agir preventivamente nesses casos.
No Nordeste brasileiro há uma atenção especial para os saguis, principalmente os saguis-de-tufos-brancos (Callithrix jacchus). Desde 2000, alguns casos de raiva transmitida por essa espécie acometeram seres humanos.
É importante o alerta à população em geral sobre os riscos de se manusear animais silvestres sem o devido conhecimento e cuidado. Atenção maior aos que foram encontrados atropelados, feridos ou doentes sem um diagnóstico certo. O fomento, por parte da população, ao tráfico de fauna silvestre (quando se compra algum animal ilegal) também é uma situação de risco e deve ser evitada e denunciada. Em parques e áreas verdes, deve-se desestimular a prática de soltar e alimentar os animais. Aos profissionais da área, que trabalham no manejo desses animais, deve-se manter atualizado o esquema de vacinação de pré exposição e não ignorar acidentes, por menor que sejam, pois a raiva ainda é considerada uma doença 100% letal.