Por Dimas Marques
Jornalista, pesquisador do Diversitas-USP e editor responsável do Fauna News
dimasmarques@faunanews.com.br
Em apenas duas ocorrências, policiais militares apreenderam mais de 2.300 aves com traficantes de animais. A primeira delas aconteceu em Pernambuco, dia 15 de maio:
“Policiais Militares da Companhia Independente de Policiamento do Meio Ambiente (Cipoma) com o apoio do Núcleo de Inteligência das Especializadas, prenderam nesta segunda-feira, em Caruaru, sete pessoas acusadas de tráfico interestadual de aves silvestres. Muitos dos animais apreendidios estão na lista de espécies ameaçadas de extinção e foram trazidos de Arapiraca, em Alagoas.
A Operação desarticulou parte do grupo, que possui membros em Pernambuco e Alagoas. De acordo com o Cipoma, pelo menos um deles já havia sido preso anteriormente.
Com os detidos foram encontradas cerca de 600 aves, que foram resgatadas e encaminhadas ao Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) do CPRH.
Dentre as espécies resgatadas haviam Canários, Sangue de Boi, Papa Capim, Azulão, Caboclinho e Patativas, Galo de Campina e Periquito da Caatinga.
Foram apreendidos ainda com os bio traficantes a quantia de R$ 4.441.
Segundo a companhia, os membros da quadrilha presos em Caruaru são responsáveis pela comercialização dos animais em Caruaru e na região metropolitana de Recife. Eles foram conduzidos a Delegacia de Plantão em Caruaru, onde foram autuados em flagrante. Se condenados, eles poderão pegar de seis meses a dois anos de detenção. Além de responderem criminalmente, os acusados podem pagar multa de R$ 500 por pássaro apreendido.” – texto da matéria “Traficantes interestaduais de aves ameaçadas de extinção são presos em Caruaru”, publicada em 15 de maio de 2017 pelo site do jornal Diario de Pernambuco
Dois dias depois, foi registrada a maior apreensão de animais traficados em território paulista este ano:
“Polícia Militar apreendeu 1.738 pássaros silvestres nativos da Mata Atlântica em Barra do Turvo, no Vale do Ribeira, interior de São Paulo, na madrugada desta quarta-feira (17). As aves, algumas raras e em risco de extinção, seriam vendidas na capital paulista. Quatro homens foram presos em flagrante.
Segundo informações da PM, uma equipe da corporação fazia patrulhamento em uma estrada que dá acesso à Rodovia Régis Bittencourt (BR-116), no bairro Pedra Preta, quando notou dois veículos parados na via.
Assim que as autoridades se aproximaram, avistaram cinco homens. Um deles fugiu para uma área de mata próxima, os demais permaneceram no local. Durante revista, os policiais encontraram, dentro dos carros, diversas caixas contendo os pássaros.
Ainda de acordo com a PM, os suspeitos confessaram que levariam as aves para serem vendidas na capital paulista. Ao todo, foram apreendidos 1.250 pintassilgos, quatro tiês sangue, cinco sabiás laranjeira; seis saíras azuis; 15 bonitos, quatro azulões; quatro gralhas; seis bicos de pimenta; 274 trinca ferros e 170 canários da terra.” – texto da matéria “Polícia apreende mais de 1.700 aves silvestres no interior de SP; quatro foram presos”, publicada em 17 de maio de 2017 pelo portal G1
Vale destacar que 211 aves já estavam mortas no momento da ação policial. As demais foram avaliadas por veterinário e por estarem em estado bravio (capturadas a pouco tempo) foram soltas no Parque Estadual Rio do Turvo (onde há ocorrência de animais das espécies apreendidas).
A quantidade de aves chamou a atenção da imprensa e pode impressionar quem não acompanha o cotidiano do tráfico de animais no Brasil. Estimativa de 2001 da Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (Renctas) indica que cerca de 38 milhões de animais silvestres são retirados da natureza todos os anos para abastecer o mercado negro de fauna.
Entre 60% e 70% dos animais são comercializados dentro do Brasil, sendo que a grande maioria é para ser criada como bicho de estimação. São pássaros em gaiolas, papagaios em poleiros e pequenos macacos em correntes. É assim no país todo.
Se os órgãos de fiscalização realmente quiserem apreender todos os animais irregulares, fiscalizar fortemente os criadores e investigar as rotas de tráfico, não haveria lugar para receber tanto bicho – realidade essa que já acontece.
O poder público pode investir o quanto quiser em repressão policial e em fiscalização que não reduzirá efetivamente o tráfico de animais. A legislação é fraca e não pune e não existe um projeto efetivo de educação ambiental para mudar a cultura de muitos brasileiros que criam silvestres como bichos de estimação.
Gestores públicos em cargos de decisão não priorizam o problema e os legisladores também não mostram interesse. O resultado desse desleixo é sofrimento, uma enorme perda para a biodiversidade e para um mundo habitável para todos.
– Leia a matéria completa do Diario de Pernambuco
– Leia a matéria do portal G1