
Por Dimas Marques
Jornalista, pesquisador do Diversitas-USP e editor responsável do Fauna News
dimasmarques@faunanews.com.br
A grande maioria dos papagaios que estão sendo criados como bichos de estimação pelos brasileiros são vítimas do tráfico de fauna. Retirados ainda filhotes dos ocos das árvores onde nasceram, milhares deles são levados aos milhares para os pontos de venda, com destaque para as regiões metropolitanas de São Paulo e do Rio de Janeiro.
O período de nascimento da espécie mais traficada no país, o papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva), ocorre entre agosto e dezembro. Durante esses meses, traficantes profissionais compram os animais de sitiantes e moradores de áreas rurais do Cerrado do Mato Grosso do Sul, Goiás, Tocantins, Minas Gerais e oeste da Bahia e os levam para os centros urbanos. Nunca experimentarão a liberdade e nunca cumprirão suas funções ecológicas na natureza. É como se estivessem mortos.
Uma porcentagem mínima desses papagaios acaba sendo apreendidos pela precária infraestrutura de combate ao mercado negro de fauna. No Mato Grosso do Sul, onde o papagaio-verdadeiro é apontado como a espécie mais traficada, duas apreensões foram registradas este ano.
A primeira, com a apreensão de 32 papagaios, foi comentada pelo Fauna News no texto Um mergulho na imagem: mais uma temporada de tráfico de papagaios, publicado em 8 de setembro. A segunda aconteceu dia 15:
“Hoje (15), equipes da PMA de Bataguassu que fiscalizam a BR 267 nas proximidades do Posto Fiscal e estradas vicinais do município perceberam quando um veículo Chevrolet Corsa Classic, voltou ao avistar a viatura. Os Policiais saíram em perseguição e os elementos entraram em uma estrada de terra, abandonaram cinco caixas à margem da pista e continuaram em fuga.
Nas caixas havia 175 filhotes de papagaios. Devido ao estado de estresse dos filhotes, a PMA os levou até o quartel para sombra e condicionamento adequado de ar e para alimentá-los. Os traficantes conseguiram fugir, porém, a PMA voltou a realizar diligências na tentativa de localizar os criminosos.” – trecho do texto de divulgação da PM “PMA apreende 175 filhotes de papagaios em Bataguassu em operação de combate ao tráfico de animais silvestres”, publicado em 15 de setembro de 2017 pelo site da Polícia Militar do Mato Grosso do Sul
As aves foram levadas para o Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (CRAS), em Campo Grande. Os traficantes conseguiram fugir.
“A região principal do problema está sendo monitorada, tais como, os municípios de Jateí, Batayporã, Bataguassu, Ivinhema, Novo Horizonte do Sul, Anaurilândia, Santa Rita do Pardo, Nova Andradina e Brasilândia, além de Naviraí e Mundo Novo. Nessa região, ninhos também estão sendo monitorados pelos Policiais, para evitar a retirada dos filhotes, visto que essa é a preocupação maior. A base do trabalho é evitar a retirada dos animais, evitando custos à fauna e ao Estado, tendo em vista os altos custos financeiros, até a reintrodução dos filhotes na natureza.” – texto da PM
Será ótimo se esse trabalho de monitoramento dos ninhos for realmente efetivo. Mas, apesar do esforço perante as limitações de efetivo e das dificuldades em cuidar de tantos ninhos em áreas de difícil acesso, vale lembrar que esse problema só diminuirá quando o poder público efetivamente investir em educação ambiental.
Somente com a redução da demanda, conseguida com a mudança do hábito de criar animal silvestre como bicho de estimação, é que realmente o tráfico de fauna sofrerá algum impacto forte.
Enquanto isso não ocorre e as leis continuam fracas para penalizar os bandidos, cenas como essas continuarão acontecendo: