Por Marcelo Calazans
Técnico em agropecuária, administrador de empresas e fotógrafo. Foi professor da disciplina Fotografia de Natureza pelo Senac-MS.
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Saudações pantaneiras!
Começa aqui o terceiro artigo da série (4 partes) sobre o Pantanal. E neste vou conversar com vocês sobre mais algumas curiosidades e riquezas naturais que essa região oferece para quem a visita. Bora lá!
O Pantanal é um paraíso para observadores e fotógrafos de natureza e de paisagens. Um lugar onde existem cerca de 230 espécies de peixes, mais de 650 de aves, 80 de mamíferos e cerca de 50 de répteis. Algumas fazendas da região oferecem boa estrutura e atendimento ao turista, tudo com conscientização ecológica e manutenção da cultura pantaneira. Temos muitos meios de apreciar as belezas pantaneiras nesses locais, seja de barco, caiaque, stand-up paddle, a cavalo ou a pé. Nesses momentos, somos agraciados com o vôo das garças, biguatingas, rapinantes, tuiuiús. Também podemos registrar as cores deslumbrantes das araras e dos tucanos, se maravilhar com o bando de cervos-do-pantanal, capivaras e ariranhas, ouvir os sons guturais dos bugios, dar de cara com sucuris e jacarés… E se for um sujeito de muita sorte, pode conseguir o registro da majestade pantaneira, a onça-pintada, caçando um jacaré ou simplesmente tirando uma sesta em algum barranco do rio.
Pouca gente sabe que o Pantanal é, hoje, um dos destinos brasileiros mais procurados pelo turismo nacional e internacional. Nos municípios que fazem parte do Pantanal do Mato Grosso do Sul, como Anastácio, Aquidauana, Miranda, Corumbá e Ladário, há uma infraestrutura muito boa para atender às mais diversas exigências dos turistas. Mas uma viagem para essa região precisa ser muito bem planejada.
Há várias maneiras de conhecer o Pantanal, como cruzar boa parte dele em barcos-hotel, já que várias agências e operadoras oferecem esse serviço. Já quem curte pescaria, existem excursões especializadas nessa atividade. Outra alternativa é hospedar-se em uma pousada pantaneira e fazer passeios de barco, trilhas a pé, a cavalo e outras. Algumas dessas pousadas estão em regiões bem remotas e o acesso a esses locais só é possível por avião ou barco.
Uma dica a ser levada em consideração para planejar sua viagem é saber qual a melhor época para agendar seu passeio. Então deixo abaixo um resumo de como funciona o clima na região.
Janeiro e fevereiro: é o período das cheias na região e os passeios de barco são o ponto forte para contemplar toda a flora pantaneira e admirar as belas paisagens.
Março e abril: a cheia continua, período em que toda a riqueza da flora (principalmente plantas aquáticas), as belas paisagens, a concentração de mamíferos, o clima quente ao fim do dia e os dias mais longos com chuva se fazem presente. Também indica o início da chegada das aves.
Maio, junho e julho: começa o período da vazante – transição entre cheia e seca. Época muito rica em aves e répteis (jacarés são o destaque). Noites mais frias e dias secos.
Agosto e setembro: época de nascimento dos filhotes nos milhares de ninhais. Rios se apresentam bem mais secos, os ipês florindo, a vegetação seca, muitos répteis e mudanças bruscas de temperatura.
Outubro, novembro e dezembro: filhotes começando a sair dos ninhais, concentração de pequenas aves, rios e vegetação secos, clima quente, florada dos aguapés e belíssimos pores-do-sol!
No período das cheias (entre fevereiro e maio), acontece um fenômeno chamado de “decoada”.
A decoada está diretamente ligada ao regime de cheias e secas dos rios da planície do Pantanal. Quando as águas recuam, a vegetação aquática morre e a terrestre, em especial as gramíneas, se recompõem de forma rápida. Durante a enchente seguinte, a água passa a cobrir a planície pantaneira, deixando essa vegetação submersa. Toda a matéria orgânica em contato com a água começa a se decompor e, conforme o nível da inundação aumenta, os produtos da decomposição são levados do campo inundado para os lagos (baías), córregos e rios. Esse processo de decomposição realizado pelas bactérias é tão intenso que é capaz de consumir todo o oxigênio dissolvido na água, liberando dióxido de carbono livre. O fenômeno dificulta a respiração dos peixes, que sobem à superfície para tentar absorver o oxigênio da interface ar-água (aquele movimento de “boquear”) e ficam mais expostos aos predadores ou acabam morrendo se não acharem uma área com água em melhores condições. Dependendo da intensidade e tempo de duração, o fenômeno pode matar toneladas de peixes!
Mas vale ressaltar que a decoada tem um papel ecologicamente importante para o funcionamento do Pantanal. Faz parte do ciclo de renovação da planície relacionado ao ciclo das águas e garante a entrada de nutrientes no sistema. Normalmente, a decoada acontece no período da enchente, onde as altas temperaturas acima de 32º aceleram o processo de decomposição. Quando uma frente fria se aproxima, as temperaturas caem por uns dias e o processo de decomposição desacelera, melhorando a qualidade da água. Em 1995, o rio Paraguai chegou a ficar dois meses praticamente sem oxigênio em função da decoada! É difícil prever exatamente onde a decoada vai ocorrer, mas o fenômeno tende a acontecer a partir do Parque Nacional do Pantanal, na divisa com o estado de Mato Grosso, em uma região conhecida como Três Bocas. Normalmente atinge as áreas marginais, campos inundados e baías, em casos de cheias mais localizadas. Mas pode atingir o canal principal dos rios se a inundação for mais intensa.
Abaixo apresento algumas imagens que captei na região, durante esse ano:
Já sei… Faltam imagens da onça-pintada caçando, tomando sol, etc. Afinal, ela é a rainha do Pantanal. Calma que vou chegar nela. Isso é assunto para os próximos capítulos, dedicados só à MAJESTADE! No próximo artigo, a última parte específica sobre o bioma Pantanal.
A gente se encontra!
Até lá!
– Releia os outros artigos sobre a Serra do Amolar: Parte I e Parte II