Por Rubem Dornas
Biólogo, especialista em Geoprocessamento e mestre em Análise e Modelagem de Sistemas Ambientais na Universidade Federal de Minas Gerais. Integra o Transportation Research and Environmental Modelling Lab (TREM-UFMG) e o Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (NERF-UFRGS)
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Muito vem sendo discutido, inclusive aqui no Fauna News, sobre a necessidade de implantação de medidas mitigadoras para atenuação da mortalidade de fauna em rodovias. Se eu disser para você pensar, nesse momento, em uma dessas medidas de mitigação, acredito que você vá pensar em algum tipo de passagem de fauna. Entretanto, existem também as que visam a diminuição da velocidade do veículo.
Uma diminuição de velocidade poderia servir de duas maneiras: oferecendo maior chance de o animal reconhecer o veículo, o que possibilita maior sucesso de taxa de fuga (já discutido anteriormente), e oferecendo maior chance de o motorista avistar o animal e evitar o atropelamento. Hoje vou falar um pouco mais dessa segunda opção.
Dentro do contexto de medidas mitigadoras voltadas para o condutor, as mais comuns são as placas de advertência com um animal desenhado – de efetividade duvidosa (veja aqui) – e redutores de velocidade. Em um artigo recente de um grupo sueco, os pesquisadores fizeram testes em um simulador para averiguar o comportamento dos motoristas em três diferentes situações: placa de advertência (com o desenho de um alce), radar e mensagem de advertência via rádio. Na seleção de 25 condutores, que abrangeu homens e mulheres, 24 deles afirmaram que diminuíram a velocidade do veículo em função das medidas. O motivo principal foi o aviso via rádio (72%), seguido pelo radar (48%) e pela placa de advertência (44%).
O estudo também avaliou a abrangência da redução da velocidade para cada uma das medidas testadas. Em relação aos radares, houve a chamada “condução canguru”, em que a velocidade é diminuída pouco antes do equipamento (no estudo, 500 m) e rapidamente restabelecida após o radar (no estudo, 250 m). No que concerne à placa de advertência, ela foi responsável por reduzir a velocidade em menos de 2 km/h e se tornando sem efeito após um quilômetro percorrido. Por fim, as mensagens de advertência por rádio se mostraram as mais eficazes, com redução média de velocidade de 8 km/h que persistiu por mais de dois quilômetros.
As mensagens via rádio se mostraram as mais eficazes para sensibilizar os motoristas. Uma vez que enviar uma mensagem de rádio a um veículo em movimento pode não ser uma tarefa trivial, estes avisos poderiam fazer parte de algum aplicativo para celular que alertasse o motorista que ele entrará em uma zona crítica de fatalidade de animais.
Os humanos podem ter um importante papel na redução da mortalidade animal em rodovias, tanto tomando consciência de que a diminuição de velocidade é um fator importante para preservar a fauna, quanto elaborando novos e inteligentes modos de se mitigar o impacto ocasionado pela movimentação dos veículos.